Em referência ao Agosto Lilás, mês da conscientização e enfrentamento à violência contra as mulheres, a jornalista e escritora Mirelle Costa relata diariamente, neste espaço, casos que servem de alerta a todos nós
Confira:
(O texto abaixo foi escrito por uma mulher vítima de violência doméstica, atendida na Casa da Mulher Brasileira, em Fortaleza. O texto compõe a obra “Após a Morte do Conto de Fadas, a Ressurreição”, publicada pelo Senado Federal, e organizada pela jornalista e escritora Mirelle Costa. Este texto pode conter gatilhos emocionais que podem afetar algumas pessoas).
Eu ainda estava de resguardo quando o meu companheiro chegou e pediu para que eu e o neném fôssemos para a casa da minha mãe, que morava perto. Fui, mas tinha certeza de que ele estava aprontando algo.
Perguntei o porquê. Ele disse que era porque o neném chorava muito. Ele colocou as fraldas da criança no carrinho e queria que saíssemos rápido. Então, resolvi sair, pois senti que havia algo errado no ar.
Estava indo para a casa da minha mãe, quando a vi já vindo me pegar, pois ele havia passado em frente à casa da minha mãe, de mãos dadas com outra mulher.
Minha mãe ficou sabendo e logo veio me buscar para que eu soubesse. Chegando na casa dela, ela não me falou nada. Tive a ideia de ir até a casa da vizinha e ela me falou tudo.
Então, deixei meu filho com minha mãe e retornei para casa, a fim de dar um flagrante, pois meu marido sempre se vitimizava e dizia que ninguém queria a nossa felicidade. Meu mundo caiu, mas procurei me manter forte a todo momento e olhar nos olhos dele para acabar com todas as minhas dúvidas.
A cena era a outra escondida embaixo da cama, já despida, e ele negando que não tinha ninguém e só queria dormir. Ela, sendo descoberta, foi tomar banho com a porta do banheiro aberta. Fiquei olhando e em nenhum momento a destratei, pois quem tinha culpa era ele.
A partir daí, tive que tomar as rédeas da minha vida, pois ele pegou em suas partes íntimas e disse que eu não iria deixá-lo, pois eu gostava daquilo. Fiquei muito triste com a verdadeira face do meu companheiro.
Tive um grande arrependimento por ter acreditado tanto nele. Então, me vi menor de idade, com apenas dezesseis anos e com uma criança nos braços, sem perspectiva de vida.
Cheguei a cogitar deixar meu filho com os avós paternos, mas olhei para o meu filho e disse que, se fosse para sofrer, sofreríamos juntos e isso foi o maior passo da minha vida.
Senhora T.
(Diante de qualquer situação de violência doméstica, ligue 180, é a Central de Atendimento à Mulher, um serviço telefônico do governo federal que oferece acolhimento, orientação e informações sobre os direitos das mulheres, além de receber denúncias de violência contra a mulher)
Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing