Em referência ao Agosto Lilás, mês da conscientização e enfrentamento à violência contra as mulheres, a jornalista e escritora Mirelle Costa relata diariamente, neste espaço, casos que servem de alerta a todos nós
Confira:
(O texto abaixo foi escrito por uma mulher vítima de violência doméstica, atendida na Casa da Mulher Brasileira, em Fortaleza. O texto compõe a obra “Após a Morte do Conto de Fadas, a Ressurreição”, publicada pelo Senado Federal, e organizada pela jornalista e escritora Mirelle Costa. Este texto pode conter gatilhos emocionais que podem afetar algumas pessoas).
Aos vinte anos, sonhava em construir uma família, ser uma Barbie, com várias roupas diferentes e tendo várias profissões, na companhia do meu parceiro de vida, mas o tempo passou.
Aos quarenta anos, depois de muitos abusos e tristezas, pergunto a mim mesma: em que momento eu me perdi? Onde me encontrar?
Aprendo, ao mesmo tempo que partilho:
— Primeiro, não permita mais ser a vítima e, diante de qualquer suspeita, caia fora do relacionamento. Aprenda a dizer não! Cada dia é como um degrau para chegar onde deseja.
Não é fácil seguir em frente. Levante a cabeça e não se importe com o que o outro vai dizer. Minha casa está uma bagunça, mas entendi que minha cabeça está pior; medo de vê-lo, medo de viver tudo de novo, medo das ameaças serem cumpridas.
O pânico de não saber se estarei viva amanhã. Medo de desistir. Medo de não suportar mais essa dor, essa mágoa.
Eu tenho um pouco de esperança de que vou melhorar, mas não sei se vou conseguir permitir que outro alguém entre na minha vida.
S.A
(Diante de qualquer situação de violência doméstica, ligue 180, é a Central de Atendimento à Mulher, um serviço telefônico do governo federal que oferece acolhimento, orientação e informações sobre os direitos das mulheres, além de receber denúncias de violência contra a mulher)
Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing