“O setor de produção de bens é a favor da existência da escola. Somente para formar mão de obra ou para aquietar os meninos”, aponta o professor e historiador João Teles. Confira:
Em 2015, perguntaram a Idevaldo Bodião, experimentado mestre da Educação do Ceará: – A educação formal, ministrada na maioria das escolas, já não funciona mais?
E ele respondeu: – Esta é uma crítica recorrente, mas… antes de mais nada: não funciona para quem? Será que a escola não está mesmo dando certo?
Ora, é essa escola “que não dá certo” que educa as crianças da periferia, filhas dos trabalhadores, dando a elas a rumo da vida, apesar de todas as dificuldades. Mas quem está cuidando da escola ou se importando com o seu futuro? Quem paga a conta dela e paga com gosto? Eis a questão.
Bodião continua: – O sistema produtivo não precisa de uma educação para todos. No entanto, para evitar o esgarçamento social, é importante que todos estejam na escola, o maior tempo possível, em uma escola não de formação integral, mas de tempo integral. Duvido que você consiga encontre uma fala institucional, que seja contra a educação. Todos são a favor da educação.
Sim, são a favor; o setor de produção de bens é a favor da existência da escola. Somente para formar mão de obra ou para aquietar os meninos, em salas de aula? O buraco é mais embaixo. Não se quer somente a escola, como ela é e está. A sociedade quer mais.
Bodião dá o rumo da prosa: – A questão é: educação de qualidade, e não apenas a escolarização. É onde começamos a perder a convergência. A educação que a sociedade considera boa, custa muito caro. Não é R$ 100 ou R$ 200, por mês. Este é o valor que a maioria dos gestores da rede pública dispõe por mês, por aluno.
Como ter uma boa escola, uma escola de boa qualidade, custando isso? Pode uma escola se manter durante todo o ano, com migalhas, com tão pouco? O professor Bodião nos ajuda, no debate: – Assim, se pensarmos na perspectiva de construir um mundo mais justo e igualitário, a escola de hoje, realmente, não funciona, a começar pelo próprio financiamento. A escola, assim, em todos os sentidos, continua perpetuando as desigualdades sociais (…).
As desigualdades perpetuadas, assistidas, diga-se, sem que se faça uma intervenção justa e necessária. Se a escola não tem nem uma boa merenda, como vai ter computador, aulas de informática, de teatro, de música, se lhe falta o basicão?
Tratada como a prima pobre, fica difícil. A elite paga sua escola (privada) e está satisfeita com ela. Quem vai bancar a que cuida dos menos favorecidos, dos desgraçados sociais? Não creio!
João Teles é professor e historiador
Respostas de 6
Boas falas, Prof. João Teles! E ainda tem, como agravante, a questão da desestruturação familiar que não permite o devido acompanhamento, pelos pais ou responsáveis, da educação dos filhos. A família, também, desassistida pelas políticas públicas. Torna-se um círculo vicioso.
Estas reflexões são de grande relevância para nós.
Com certeza, prof. Luiz Carlos Silva. Família. O calcanhar de Aquiles!
A escola faz de conta que ensina
O aluno que evolui e aprende
O educador que luta não entende
E assim vai se repetindo a sina
Do descaso com menina e menina
Falta verba, boa merenda, professor
Falta comprometimento e amor
Só não falta quem fale que vai bem
Que na escola tudo é bom e tudo tem
Que me venha com inverdades Senhor
Debate aberto, pessoal! A tribuna é essa!!
Excelente reflexão baseada na fala de Bodião. Trata-se de um sistema vigente há décadas que não será solucionado enquanto não houver o interesse dos responsáveis.