“O bicho homem colocou dinheiro, posição social, cargo e a correria normal de uma manhã ensolarada de quinta-feira em segundo plano. Anônimos pararam o trânsito, fizeram cordão de isolamento, empurraram incubadoras”, aponta o jornalista Paulo Rogério
Confira:
Muitas vezes é preciso acontecer uma tragédia para que o melhor do ser humano venha à tona. Parece contraditório, mas o sofrimento faz renascer no homem sentimentos que ficam escondidos diante da cantilena de acordar, levantar, trabalhar, comer, dormir. Sensações que nos aproximam de uma energia superior, uma paz e bem-estar que revela o quão pequeno e egoísta é o mundo que tem nos envolvido.
O incêndio no Hospital César Cals poderia ter sido uma tragédia histórica com a morte de dezenas de crianças recém-nascidas, o desespero de pais e mães e o fim de famílias que estavam apenas começando. De uma cena melancólica, o acidente se transformou no exemplo de que, quando as pessoas se unem, podem conseguir o que quiserem. No caso, mudaram o destino de muita gente.
O bicho homem colocou dinheiro, posição social, cargo e a correria normal de uma manhã ensolarada de quinta-feira em segundo plano. Anônimos pararam o trânsito, fizeram cordão de isolamento, empurraram incubadoras. Comerciantes esqueceram de “comercializar”, abriram espaço nas suas pequenas lojas para receber os bebês indefesos. Uma correria movida pela compaixão, pelo amor ao próximo, pelo pleno sentimento humano de se preocupar com o outro.
No fim o saldo positivo de todos salvos e as palmas e gritos de comemoração pelo bom trabalho conjunto de salvamento. Quem não foi às lágrimas ao ver tudo isso é porque ainda não entendeu o real motivo de nossa passagem pela terra. A mim, a emoção tomou conta e, além do choro, veio um orgulho danado do fortalezense pelo exemplo de humanidade dado ao Brasil. Lágrimas que me fazem ter esperança no ser humano. Acredite, ainda temos solução!
Quisera não ser preciso acontecer essas catástrofes para o homem voltar a ser realmente humano. Um ser mais sensível ao que ocorre a sua volta. Não somente consigo mesmo, mas também com os bichos, as plantas, nossos rios e mares. Já sentimos na pele os efeitos do desleixo. Seguir nesse ritmo de riqueza exagerada é ir ao encontro de uma tragédia já anunciada.
Quisera eu que essa crônica chegasse (e sensibilizasse) a um desses empresários que constroem verdadeiras torres de babel na Beira Mar, espalhando barreiras para a outrora gostosa brisa da capital cearense. Aonde vão chegar esses prédios com 30, 40, 50 andares? Querem cutucar o céu?
Acho que Deus permite que essas tragédias aconteçam de vez em quando para acordar o homem. Seja para nos mostrar o quão frágil somos diante do Mundo. Seja para nos fazer acreditar que somos fortes para superar qualquer dificuldade, sem precisar humilhar e maltratar o outro. Pelo contrário.
Somos mais poderosos quando demonstramos união, tolerância com os demais e amor. Temos realmente mais força quando nos colocamos no lugar do outro e nos propomos a vencer os problemas. Foi assim que, recentemente, o homem venceu a pandemia e derrotou a Covid 19.
É assim que vencemos as tragédias diárias, as grandes que balançam a sociedade e as pequenas que passamos rotineiramente.
Paulo Rogério é jornalista (paulorogerio42@gmail.com)
Uma resposta
Texto fabuloso e ouso transcrever:
Quem não foi às lágrimas ao ver tudo isso é porque ainda não entendeu o real motivo de nossa passagem pela terra.
E quanto ao trecho ….
Quisera eu que essa crônica chegasse (e sensibilizasse) a um desses empresários que constroem verdadeiras torres de babel na Beira Mar
Espero também que essa crônica sensibilize nossos governantes.