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“Ainda dá para ler Montaigne?”

Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor e escritor, além de ex-reitor da UFC

Em artigo sobre o atual mercado literário, o ex-reitor da UFC, escritor e cientista político Paulo Elpídio de menezes Neto afirma que “considero o tamanho das minhas perdas ao ignorar os novos escritores que abastecem o mercado”. Confira:

Rendi-me à minha maneira à temporalidade da literatura. Menos pelos impulsos, cada vez menos visíveis, para novas descobertas,do que para ler as “páginas infinitas” da web de leituras em atraso.

Ao invés da necessidade, que a muitos intelectuais acode, de descobrir “revelações” de talentos expostos, penitencio-me pela inadimplência com leituras vencidas, inconclusas, deixadas no passado.

Tentei fazer um balanço intelectual, a exemplo do que se permitem alguns amigos, de cuja argúcia e brilho me sirvo desavergonhadamente. Decepcionante resultado de uma contabilidade improvável.

Como devedor renitente, só me vinham à lembrança leituras perdulárias, caídas em domínio público, mas ainda ignoradas por mim…

Nestes momentos de aflição e arrependimento pelo tempo desperdiçado, recorro à indulgência de alguns conselheiros credenciados.

Alder Teixeira tem-me sido de grande ajuda nessa lida, ademais das nossas contingentes, porém educadas, dissensões epistemológicas e dialéticas sobre o essencial da nossa perseverante discrepância.

Agora mesmo, faço uma demorada e circunspecta leitura (outros, menos contidos, falariam de uma improvável “releitura”…) de Montaigne, sob prescrição de Filomeno Moraes. Em texto atualizado, ainda que reembalado em francês…

Considero o tamanho das minhas perdas ao ignorar os novos escritores que abastecem o mercado. Sei que são bons, criativos e inovadores; faço fé no alvitre de Clauder e de Alder, meus confessores intelectuais por mim habilitados por livre escolha… Avalio, contristado, a extensão das minhas irrecuperáveis perdas. Como vencer esse apego insensato às perdas acumuladas de textos recolhidos, quando se multiplicam as evidências da engenhosa criatividade que nos cerca em textos inovadoras na forma, no conteúdo e na construção de uma nova linguagem reveladora?

Extraindo alguns episódios que trago comigo em meus guardados incomuns, lembro de uma cena inesquecível.

Alvaro Moreyra encontra-se com Josué Montelo à saída da biblioteca da Academia Brasileira de Letras, no Rio.
Vendo que o amigo trazia nos braços alguns livros, Montelo indaga, curioso sobre o que estava o amigo a ler, o que sobraçava com tanto interesse. De relance, vislumbrara as lombadas expostas de velhas encadernações. Lá estavam três livros de Eça de Queirós.

E Álvaro Moreyra, a desculpar-se: “são as minhas leituras de despedida”.

Não duraria uma semana, a confirmação daquelas amargas previsões se cumpriria.

Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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