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“Amar, verbo intransitivo”

Ainda que não mais seja
Tuty Osório é jornalista e escritora

“Muitos dias fora de casa dão nisso. Delírios, garganta presa, dor no coração. Solidão é hábito”, aponta a jornalista e publicitário Tuty Osório.

Confira:

No aeroporto de Belo Horizonte observo os passantes da cadeira confortável do Portão 6. A mãe e a filha dançam abraçadas, caminhando em um balé relaxado, típico de férias ou quem sabe expressão de algum desafio superado. Ou de uma resposta positiva ao tempo. Viajar é vestir uma capa de super herói, por vezes.

Sem querer, sempre sem querer querendo, escuto a conversa por vídeo da moça de óculos de armação grossa, a meu lado. Fala com alguém íntimo. Filho, marido, irmão. Faz recomendações domésticas, comenta que se sente melhor de uma dor de estimação, pergunta das plantas, dos cachorros. Faz juras de carinho eterno.

Também já enviei minhas mensagens amorosas. Sou mais de escrever e dei o boa noite cedo, vai que de um voo para o outro não dava… Cansada, questiono essa vida cigana, o vai vem nas madrugadas. Em nome do trabalho tenho topado insalubridades e confesso que não me desagrada. Nômade satisfeita, fico sonhando com férias ou períodos de descanso mais prolongado.

Confirmo que é bem melhor sentir falta que enfado. Parece que é tudo muito misterioso. Na verdade, é simples e claro. Se fossemos olhados com vistas de ver não haveria tantas incompreensões e ressentimentos. Muitos dias fora de casa dão nisso. Delírios, garganta presa, dor no coração. Solidão é hábito. Independência é costume. Ou será o contrário?

Na voz emocionada da jovem do vídeo, a frase sobre liberdade. Não são mais as mesmas metáforas dos meus 20 anos. Não há paralelos com preço, troca, pedágio. Não estamos no auge da materialidade. Embora a espiritualidade permaneça sem provas. É crise, ruptura ou o fim? Falam do fim de muitas coisas. Da história à política, venceu o cansaço.

Parece que Nina Simone nunca esteve tão certa: liberdade é não ter medo.

Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS

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