“A casa era encerada, arrumada e, por devota precaução, ainda, Dona Ju guardava as imagens de Jesus e Maria”, recorda o arquiteto e escritor Totonho Laprovítera. Confira:
Religiosa que só, a santa e respeitada viúva Dona Ju era cheia de exigências para permitir que as suas três filhas promovessem as animadas e concorridas tertúlias em sua residência da Vila Pita. Para tanto, primeiramente, exigia das meninas a relação de convidados, para a rigorosa seleção de frequência, onde, moça falada e rabo de burro eram sumariamente excluídos.
Decidida a seleta lista, as moças, todas de cabelo na touca, convidavam os escolhidos, organizavam e preparavam as bebidas – água, refresco ou Ki-Suco, e ponche ou caipirinha – e escolhiam o repertório musical. Enquanto isso, cuidadosamente, a casa era encerada, arrumada e, por devota precaução, ainda, Dona Ju guardava as imagens de Jesus e Maria, além de posicionar as demais, de vários santos, olhando para as paredes, quer dizer, de costas para o improvisado dancing na sala de visitas.
Apesar de todos os cuidados com as donzelas, vez por outra, quando na já cansada radiola à pilha tocava música lenta, vigiando, Dona Ju fazia piscar a luz do recinto para espaçar os inocentes casais, grudados de infantis quimeras e sequiosos desejos juvenis.
Totonho Laprovítera é arquiteto, escritor e artista plástico