Como disse a Andrea Del Fuego, tudo morre, tudo se finda, um dia.
Comecei a viver a Bienal participando (como ouvinte) de uma mesa do Ministério da Cultura. Foi quando eu entendi que, para criticar qualquer política pública, primeiro é preciso conhecê-la, bem como seus desdobramentos. “Política é um conjunto de programas, plano não é algo abstrato, mas um conjunto completo”, explica Jeferson Assunção, diretor de livro e leitura do MINC.
A secretária de cultura do Ceará, Luisa Cela, falou da necessidade de se trabalhar as leituras nos territórios. “A cultura possui uma força significativa. Precisamos reivindicar investimentos para o plano ser colocado em prática”, referiu-se ao Plano Nacional do Livro e Leitura.
Fabiano Piúba, secretário de formação cultural, livro e leitura do Minc, destacou que a centralidade de uma política do livro e leitura é a formação. “A cultura é o pão para as escolas de tempo integral. A meta de uma boa política de cultura é as pessoas entenderem a necessidade dela. A sociedade também precisa defender esse investimento para termos um plano sustentável”, explica Piuba.

Confesso ter a Bienal mexido com o meu emocional (ansiedade truou), não consegui estar em várias mesas ao mesmo tempo, no estande dos independentes (onde estava meu livro Não Preciso Ser Fake) e ainda apoiar os amigos nos lançamentos, como Erilene Firmino, Vera Marques, Raymundo Netto, Mailson Furtado, Bruno Paulino, Wilson Júnior, Well Morais, Denilson Vieira e tantos outros. Nunca tive tanta vontade de ter o dom da onipresença como nos últimos dias. Vendi exemplares do meu livro de crônicas “Não Preciso Ser Fake”, conversei com escritores, cordelistas, leitores e colegas jornalistas tudo ao mesmo tempo, no mesmo dia, quase na mesma hora.

A Bienal trouxe Andrea Del Fuego, Aline Bei, Stênio Gardel, Micheliny Verunschk, Socorro Acioli, Adriana Negreiros, Lira Neto, Helena Vieira e Tuyra Andrade, Isabel Costa, Bárbara Kariri, Bruna Dantas Lobato, Dalgo Silva, Marília Lovatel e muitos outros. Quis ouvir o que todos tinham a dizer. E (quase) consegui. Vivi intensamente a décima quinta Bienal Internacional do Livro do Ceará.
Participei de uma mesa onde falei sobre esse espaço aqui no Blog do Eliomar, revi amigos queridos, comprei livros e ainda lancei uma nova obra. Mileide Flores, Patrícia Cacau, Talles Azigon, Lilian Martins e Alexandre de Almeida trouxeram discussões produtivas sobre a formação do público leitor nas mesas que mediaram. O desabafo da médica e cordelista Ana Paola Torres me fez refletir sobre o porquê de nenhum cordelista estar na Academia Brasileira de Letras.

Meu feed nas redes sociais nunca esteve tão cheio de indicações de livros, rodas de conversa e convites para lançamentos. Vi meus colegas de labuta trabalhando, como Soraya Matos, Sandra Santos, Sofia Osório e Lilian Martins, conheci novos colegas, como o jornalista Fábio Lucas, fundador do @livronewsnoinsta, colunista do @jc_pe e presidente do Conselho Editorial da @cepeeditora, que veio de Pernambuco para fazer a cobertura do evento em Fortaleza.

Como eu amo a minha bolha! Por um momento, lembrei a pesquisa Retratos da Leitura do Brasil de 2024 que escancarou os (apenas) 3,96 livros lidos por uma pessoa em média, o menor índice da história do nosso país. Pensei (gritando) “Todo mundo lê, meu povo! Esses números estão errados, eu quero o VAR”.
Francisco Eulálio, diretor da Expressão Gráfica e Editora, comenta a publicação literária no Ceará. “Tenho certeza de que a produção aumentou consideravelmente. A Amazon, por exemplo, aumentou o número de galpões para armazenar os pedidos de obras. Em 37 anos, já fizemos mais de vinte e duas mil impressões de títulos, pois realizamos uma média de seiscentos projetos literários anualmente. Somente aqui em nosso estande, tivemos mais de cinquenta lançamentos em dez dias de Bienal. Não perdemos espaço para o digital. A indústria papeleira está vendendo muito mais, disso eu tenho certeza”, aponta Chico Eulálio, diretor da Gráfica e Editora Expressão Gráfica.
Será que publicamos mais e lemos menos? Todo mundo que adquiriu obra na Bienal pretende ler os títulos ou estamos só acumulando livros sem aumentar o hábito da leitura? É preciso refletir sobre isso, mas eu acho que um evento como a Bienal contribui positivamente para a formação do público leitor.

Dancei forró ao som da Lídia Maria (chega, São João!), senti saudade do meu mestre Gilmar de Carvalho (eternizado no cordel no espaço do grande Rouxinol do Rinaré) e escutei a Julie Oliveira apresentar-se em cordel lindamente.

A Bienal é pra ser vivida intensamente e eu vivi. Lancei um livro que eu organizei. “Após a Morte do Conto de Fadas, a Ressurreição” nasceu de uma oficina ministrada por mim na Casa da Mulher Brasileira para vítimas de violência doméstica. Enxerguei-me como uma ponte entre as mulheres e o caminho da escrita. Elas autografaram as obras no estande do Senado, que disponibilizou cem exemplares distribuídos no lançamento. Para falar sobre a literatura, políticas públicas e o enfrentamento à violência, convidei autoras da obra, a coordenadora da Bienal Internacional do Livro do Ceará, Maura Isidório e o vereador Gardel Rolim.



Na Bienal passada, minha mãe esteve, viu meu livro no estande, folheou e ainda bateu perna nos espaços comigo e, nesta edição, ela não pôde ir por ter ficado vegetativa. Lembrei-me do escritor e poeta Carlos Emílio Correia de Lima, que coordenava o espaço de periódicos e revistas literárias da Bienal e faleceu em 2022, lembrei-me do registro fotográfico com o nosso (agora) saudoso teatrólogo e escritor, Oswald Barroso, nos corredores do evento. Quando comecei a lembrar-me de quem não mais está, encontrei-me com quem permanece, daí a importância de celebrarmos os encontros de gente e de palavras que somente o ambiente fértil da Bienal nos proporciona e que, em mim, já está eternizado.

Uma resposta
Como é bom saber das mensagens que fazem na arte de escrever a realidade vivida, e nesse caso, referindo-se a XV Bienal Internacional do Livro do Ceará, o desafio é posto em cada rosto que se expressa, ao perceber entre escritor/a e leitor/a, a prioridade da vida que solicita solidariedade, decisão, fraternidades… Parabéns, Mirelle, pelo escrito marcante em nossa vida.