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“Caminho das Pedras”

Totonho Laprovítera é arquiteto e escritor. Foto: Reprodução

Com o título “Caminho das Pedras”, eis mais um conto da lavra de Totonho Laprovitera, arquiteto, escritor e artista plástico. 

Confira:

“No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho…” (Carlos Drummond de Andrade)

Caminho a quatro quilômetros por hora. Sou regido pela lei solar. Faço parte deste formigueiro humano. Faço arte, amo, como, bebo e durmo. Na minha casa, procuro meu Deus. Correspondências: o equilı́brio das pedras e o da alma. Para mim, todas as pedras são preciosas. Não importa se são brutas, lapidadas, brilhantes ou sem graça aparente. Elas são mais do que simples matéria mineral, dura e silenciosa, tirada das rochas. Cada uma carrega um mistério, um poder, uma história. São como gente: têm camadas, imperfeições e um brilho próprio que, às vezes, só aparece com o tempo.

Assim, as pedras nã o sã o apenas pedras. São cura para os cansados, proteção para os inseguros, força para os frágeis. São vitalidade para quem precisa de um empurrão, criatividade para os tolhidos, ousadia para os tı́midos e coragem para quem anda com medo do mundo. E, assim como a gente, só precisam ser descobertas.

“Caminho das Pedras” é um projeto artı́stico de minha autoria, marcado por uma simplicidade quase ingênua, mas com pretensõ es Kilosó Kicas admitidas em silêncio. A ideia é simples: aos amigos viajantes, peço que me tragam uma pedrinha qualquer – daquelas esquecidas no chão, pisadas e ignoradas por quase todos. A razão está em ler e enxergar o que vem junto com a pedrinha, e o conceito, no segredo que cada uma carrega, reunindo experiências de cada viajante. Pois, além do pedacinho de chão, aprecio histórias, impressões e um bocado do lugar não visto. A pedrinha não precisa ser bonita ou rara, pois seu verdadeiro valor está na memória carregada em segredo e no vı́nculo criado.  Junto à sua materialidade, vive o sopro do conhecimento de cada viajante – histórias, olhares e luzes em curso. Assim, muito mais do que um monte de pedras, a coleção é uma geografia afetiva de narrativas, onde cada pedaço do chão carrega seu passado e sua essência. Uma forma simples e poé tica de viajar pelo mundo sem sair de casa.

No mais, um jeito fácil de arranjar pedrinhas é comprando nas lojas, que já as têm bem limpinhas, prontas para escolher e levar. Mas, claro, tem que pagar. Outra opção é trocar com colecionadores, mas aı́ você precisa ter umas que os interessem. Já eu prefiro ganhar dos amigos, em um gesto de generosidade que mostra o caminho das pedras e seus valores e significados.

Por fim, atire a primeira pedra – não como gesto de julgamento, mas como contribuição ao meu projeto.

*Totonho Laprovítera

Arquiteto, escritor e artista plástico.

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