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“Cego, surdo e mudo”

Barros Alves é jornalista e poeta

“A situação, encurralada pelos fatos escabrosos, se levanta atabalhoadamente em face da crítica do deputado Alcides Fernandes, o qual se arrima no fato de que este maio no Ceará se configurou um mês de violência sem precedentes”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves. Confira:

Ontem, a Assembleia Legislativa do Ceará, sob os olhares ingênuos de religiosos pertencentes ao grupo Arautos do Evangelho, uma dissidência da original “Tradição, Família e Propriedade-TFP”, viveu um momento meio surreal, ou seja, algo que semelha um encantamento para além da realidade, uma subversão de fatos da vida real, que na visão dos surrealistas são transformados em episódios diáfanos, angelicais. Tudo começou com uma breve intervenção do deputado Alcides Fernandes, que é pastor da seara evangélica. O parlamentar fez a crítica direta e concreta da crise de segurança por que passa o nosso Estado e aproveitou para fazer uma analogia entre a situação calamitosa em que está o Ceará e a diametralmente oposta em que positivamente se assenta a segurança no Estado de São Paulo.

Com efeito, sob governos esquerdistas, as políticas garantistas assenhoreadas em algumas leis e decretos governamentais enviesados, são o pálio que abriga a ousadia da marginalidade e submete os órgãos de segurança pública, em especial a Polícia Militar, a um estado de tensão psicológica em face de possíveis punições, pior do que as tensões advindas do natural confronto com os agentes do crime. Para o enfrentamento com estes estão preparados; em relação àqueles se sentem desamparados pelo próprio Estado que tem a obrigação moral e o dever constitucional de defender o combatente que enfrenta o crime, em favor da segurança da sociedade.

Voltando à vaca fria. A situação, encurralada pelos fatos escabrosos, se levanta atabalhoadamente em face da crítica do deputado Alcides Fernandes, o qual se arrima no fato de que este maio no Ceará se configurou um mês de violência sem precedentes na História, alcançando, a contar de janeiro, número acima de 300 mortes por assassinato. Pior: há indícios de que alguns crimes têm móvel político. Para assegurar razão à crítica do deputado Alcides, basta anotar a troca de titular na Pasta de Segurança, até aqui submetida a uma gestão de ineficiência proverbial. A situação, porém, sem descolar dos devaneios superrealistas vai à tribuna e sem ter argumentos concretos para desconstruir o discurso do crítico, ataca a personalidade, que além de ser parlamentar é pastor evangélico. Foca no pastor e faz assomar o preconceito religioso e a hipocrisia de par com total descontextualização da mensagem evangélica e da doutrina em que se assenta o “modus vivendi” do povo cristão. Numa atitude própria de fariseus, sepulcros caiados, raça de víboras dizem do pastor aquilo que lhe cai como luva na própria cabeça. Todo governo é mentiroso, afirmava com razão o jornalista I. F. Stone, autor do clássico “O Julgamento de Sócrates”, militante socialista nos Estados Unidos sob a Guerra Fria e pedra no sapato de vários governos nas décadas de 1960 e 1970. Eis que, neste pé, o deputado-pastor está em boa companhia quando se refere ao governo do nosso pobre e abandonado Estado, entregue a incompetentes no governar que por tal desídia ensejam a que facções criminosas exerçam pelo terror o poder e o mando em parcelas da sociedade cearense. Mas, por omissão pecou o pastor-deputado ao minimalizar a adjetivação crítica quando disse que o governador Elmano é um “criado mudo”. Não somente! O chefe do poder executivo do nosso querido Ceará tem demonstrado ser cego, surdo e mudo. Porém, concedamos socraticamente ao governador o direito à ignorância. Errar é Elmano.

Barros Alves é jornalista e poeta

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Uma resposta

  1. Meu caro Barros Alves, belíssima descrição do quadro confuso dos nossos parlamentares. Sobre o ex-poste da Loura, o que podemos esperar dessa figura medíocre?

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