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“Como dar nome às praças e ruas em Fortaleza”

Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor e escritor, além de ex-reitor da UFC

“A quem se der ao trabalho de abrir o registro dos logradouros nesta cidade de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção haverá de surpreender-se com a quantidade de ruas e de tantos patronos desconhecidos”, aponta o cientista político Paulo Elpídio de Menezes Neto. Confira:

O “canal da consagração” é invariavelmente a Câmara Municipal por iniciativa de um vereador. Às vezes pela pressão comunitária ou por arranjos políticos.

Cada localidade, município ou cidade tem a sua regulamentação própria para dar nomes aos logradouros e ao que for definido em lei.

Em Fortaleza, praças, ruas, becos, travessas, elevadores, elevados e pontes foram incluídos nesta categoria “logradouros”, a exemplo de outros centros urbanos igualmente importantes. Nova Iorque deu-lhes numeração e Brasília uma fórmula característica. Aqui, os nomes próprios são de uso habitual.

A quem se der ao trabalho de abrir o registro dos logradouros nesta cidade de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção haverá de surpreender-se com a quantidade de ruas e de tantos patronos desconhecidos.

Como se dizia a propósito dos cemitérios — “nem todos os que aqui estão, deveriam estar,e muitos dos que não estão deveriam ser trazidos para cá” — os logradouros deveriam ser preservados das combinações familiares e políticas. Mas não o são.

O pior resulta quando uma dessas homenagens de conveniência ocupa o lugar de maior merecimento, retira-se uma denominação antiga, poética e sentimental e nela põe-se o nome de um anspeçada reformado. Apagou-se o nome da rua

Boa Vista, em Fortaleza, para chamar-se Floriano Peixoto e rua do Fogo, para major Facundo. Rua das Flores veio a chamar-se Castro e Silva, rua das Trincheiras, Liberato Barroso, travessa da Conceição para rua tenente Benévolo… No Conjunto Esperança, a rua do Canal passou a chamar-se recentemente Marielle Franco, vítima do tráfico no Rio de Janeiro… [História Abreviada de Fortaleza: crônica da cidade amada”, Mozart Soriano Aderaldo, Fortaleza Editora UFC, 1974].

A indulgência na concessão destes galardões urbanos responde pela avalanche de ilustres desconhecidos, parentes e políticos de arrabalde, que ombreiam com vultos respeitáveis em uma cidade cuja expansão não segue qualquer ordenação ou regramentos urbanos.

Os títulos de cidadania seguem pródigos e indistintos, as universidades danaram-se a conceder títulos de Doutor Honoris Causa a cantores e políticos de passagem, ao sabor das preferências ideológicas que delas tomaram conta.

Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC

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