“O Brasil é o único do top 10 do PIB mundial que está também na lista dos 15 países mais desiguais, o que diz muito sobre nossa realidade econômica, política e social”, aponta o jornalista Marcos Robério Santo. Confira:
Nesta semana foi divulgado o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no primeiro trimestre do ano. O crescimento de 0,8% em relação aos três meses anteriores reforçou a previsão, entre órgãos e agências internacionais, de que o País aumente sua riqueza em cerca de 2% em 2024 – ultrapassando a Itália e tornando-se a oitava maior economia do mundo. O resultado foi comemorado pelo Governo Federal como indicativo de que o País está novamente “no rumo certo”. É válido lembrar, contudo, que o Brasil que figura neste ranking ao lado das potências da Europa, da América do Norte e da Ásia é o mesmo que aparece em patamares similares aos de nações africanas no ranking da desigualdade social.
O primeiro lugar no ranking do PIB é dos Estados Unidos, seguido por China, Alemanha, Japão, Índia, Reino Unido, França, Itália, Brasil e Canadá. Nessa lista, o Brasil já chegou a ocupar a sétima posição, de 2010 a 2014 (o que já havia ocorrido em 1995). A grave crise política e econômica acentuada no País a partir de 2015, porém, fez a economia brasileira regredir para o nono lugar naquele ano. Em 2020, caiu para o 12º posto (pior posição nos últimos 15 anos). Após voltar ao nono lugar em 2023, deve terminar 2024 em oitavo, confirmando o viés de alta no crescimento.
Já no ranking da desigualdade social, conforme dados divulgados pela ONU em 2023, o Brasil ocupa o nada honroso posto de 14ª nação mais desigual do mundo, mesma posição do Congo, que passou por guerras civis e golpes de estado em sua história recente. Na mesma lista figuram nações africanas como África do Sul (primeira colocada, ou seja, o país mais desigual do mundo), Zâmbia, Zimbábue, Moçambique, Botsuana e Angola, e da América Central, como Panamá, Costa Rica e Guatemala. Entre os países da América do Sul, apenas a Colômbia é mais desigual do que o Brasil. O indicador utilizado é o Índice de Gini, um coeficiente que mede a concentração de renda.
Ressalte-se que, apesar de seguir entre os países mais desiguais do mundo (cenário que ainda deve perdurar por muito tempo), o Brasil vem melhorando nesse ranking nos últimos anos, tendo alcançado em 2022 e 2023 o melhor resultado da série histórica do IBGE – iniciada em 2012 –, que também utiliza o Índice de Gini. No entanto, o Brasil é o único do ranking dos 10 países com maior PIB que está também na lista dos 15 países mais desiguais, algo que diz muito sobre nossa realidade econômica, política e social.
Além disso, a pequena queda nos parâmetros de desigualdade vem a passos dramaticamente lentos. Algumas projeções apontam que se o Brasil retomasse o ritmo de redução da desigualdade que se deu de 2001 a 2014, ainda assim seriam necessários pelo menos 30 anos para chegar no mesmo patamar de Itália e Rússia, os países europeus mais desiguais.
Tais dados revelam o tamanho das contradições e do fosso social que o Brasil produziu ao longo de sua trajetória. E dão uma ideia também da magnitude do desafio colocado ao estado brasileiro para promover crescimento (e aqui nem vou entrar na questão sobre as muitas críticas que esse modelo suscita) e, ao mesmo tempo, reduzir a desigualdade a níveis minimamente razoáveis. Para isso, é imprescindível o fortalecimento de programas sociais, como o Bolsa Família, aliado a investimentos massivos e eficientes em diferentes áreas com foco na parcela mais pobre da população. Por outro lado, é essencial também um arcabouço tributário mais justo, que incida principalmente sobre renda e propriedade, reduzindo consideravelmente os ganhos da parcela mais rica. Se não for assim, continuaremos comemorando um PIB de ganhos seletivos e perpetuando vergonhosos contrastes.
Marcos Robério Santo é jornalista
Uma resposta
Excelente artigo, Marcos Robério! A concentração de renda no Brasil precisa ser enfrentada, principalmebte, com educação que insira a todos no mercado de trabalho. Além disso, faz-se necessáruo discutir a concentração de renda pelo lado dos salários aviltantes praticados no Brasil, no setor público e privado. A diferençe entre o menor e o maior salário chega a quarenta vezes. Os juros praticados no Brasil é iutra anomalia cruel concentradora de riqueza.