“És um senhor tão bonito” – Por Tuty Osório

Ainda que não mais seja
Tuty Osório é jornalista, publicitária e escritora

“Viver no automático,- que me perdoem os discordantes que adoram tarefas superpostas, – não é viver”, aponta a jornalista e escritora Tuty Osório

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Enfim a Casa de Enock, da amiga Consuelo, o bar em casa, virou ponto de prego batido, ponta virada. Sem dia certo, mas a cada dia certo, tem gente lá. Os que não falham têm sua chave e até agora ninguém foi reprovado no comportamento. Sem tempo nas duas últimas semanas, fiquei de fora, por enquanto. Continuo nas minhas controvérsias de mim para mim, tempo escasso até para os papos com a minha mãe. Um dos temas das conversas internas, reflexões as chamamos, é essa noção de tempo que me parece que vem mudando.

Estou meio sem noção do que é o novo tempo. Há dias que passam em instantes, outros, em especial os domingos, que parecem eternos, passam com doçura, quase preguiça. Ando em busca de saber aproveitar todos os momentos, fugindo daquela sensação de ter sido traída pelas minhas próprias ações, pois às vezes mal as vejo passar. Viver no automático,- que me perdoem os discordantes que adoram tarefas superpostas, – não é viver. Prefiro perceber o que se passa, em lugar de ser passada por um agora que vira passado sem me passar, de verdade, porque não senti.

Floreios em frases, ditos, vamos em frente. O babado é sobre como estamos vivendo acelerados. Eu, apesar de tudo, nem tanto. Vigio esse estado para não me pegar demais. Tenho amigas com estafas de nomes em inglês, amigos curvados pelo peso de uma cobrança que é invisível, porém, está lá com grilhões, chibatas, cruzes. Quero fazer as pazes com o tempo, antes que a gente brigue, nós dois. Digo ao tempo, todos os dias, que não sou sua inimiga, que o vejo como aliado. Adulo o tempo, agrado com dobras tentando iludi-lo. Iludindo-me, é o que é.

Abençoada por fazer o que gosto, viver como quero e estar onde escolhi estar, não vou estragar tudo com estresse e ansiedade. Além de cafona é nocivo, faz mal, deixa a gente vulnerável, com a credibilidade abalada. Não sou boa em competição, chegar em primeiro lugar, ser premiada com a maior medalha. Meu

forte é juntar mãos, mentes e lápis coloridos para o sol amarelo do dia. Pode ser manhã. Ou tarde. Desde que brilhe e abrace a gente com mornidão de mar. De sertão. Túnel. Minhocão. Verdão. Sempre paixão.

Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS. Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais

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