“Eu quero ser feliz agora” – Por Paulo Rogério

Paulo Rogério é jornalista.

“Foi então que o papo passou a ser mais sério e aquelas mulheres me deram uma lição de vida”, aponta o jornalista Paulo Rogério

Confira:

Sábado à tarde, sem futebol na tevê ou um filme interessante para assistir. Veio então o convite para acompanhar a inauguração de um espaço terapêutico na periferia de Fortaleza. Estranhei a localização. Geralmente estes locais ficam em áreas mais nobres como Aldeota, Cocó, Fátima. É um público diferente, mais “cabeça feita”, acostumado a tratamentos alternativos.

Que fique claro que não sou contra essas terapias. Admiro quem se dedica a elas e acredita nos poderes delas. Mas sou meio esquisito. Não gosto muito de abraços e toques de estranhos. Até hoje não admito, por exemplo, que ninguém coloque as mãos nos meus pés. Cortar as unhas é um poder que só eu mesmo. Nem pensar em pedicure. Massagem no corpo, então, está fora de qualquer possibilidade.

Aceitei o convite e seguimos – eu, a esposa e uma amiga dela – até próximo da Lagoa da Parangaba. Entramos em umas ruas estreitas até achar o tal espaço, instalado em uma ampla casa sem qualquer placa que constatasse a existência do serviço. Várias mesas com toalhinhas brancas estavam dispostas no que seria, originalmente, a garagem da residência. Pela quantidade de cadeiras, a expectativa era de um público grande. Apesar de um cachorrinho gasguita insistir em latir e pular na tentativa de abocanhar um passarinho preso na gaiola, a música ambiente conseguia acalmar a espera.

O novo espaço era rico em detalhes, cheios de figuras indianas e orientais, incensos, cristais e perfumes que prometiam cura de vários problemas – menos da minha constante tontura. Alguns itens eu entendia o significado. Outros não tinha a menor ideia. Mas fazia cara de quem sabia de tudo. Dava para ver que tudo foi montado com muito carinho, por alguém que tem paixão por aquilo. Até quem tem pouca sensibilidade – como eu – podia sentir a forte energia do lugar.

Aos poucos as pessoas foram chegando e ocupando as mesas. O converseiro tomou conta do ambiente. Percebi que o único representante do sexo masculino no local era eu. Será que os homens são tão machões ou incrédulos a ponto de recusar, simplesmente, conhecer um tratamento alternativo? Besteira!

A grande maioria ali era de mulheres da meia idade, umas um pouco mais. Solteiras, viúvas, separadas. Várias delas vovós. Foi então que o papo passou a ser mais sério e aquelas mulheres me deram uma lição de vida. A dona do espaço fez um histórico da vida dela e de como fez para sair da depressão de uma aposentadoria não planejada. De como se reinventou, voltou a estudar e encontrou na cultura holística a motivação para viver. O local era a concretização do sonho.

Só aí deu para perceber que aquelas cerca de 40 mulheres tinham o mesmo objetivo. O de se reinventar, procurar motivações, conhecer e experimentar novas energias. Não só porque se dispunham a experimentar Reiki, aromaterapia, meditação, ou florais. Isso por si não basta. É preciso ter uma grande força interna, enfrentar preconceitos, superar barreiras e sair da mesmice. É se amar para buscar o equilíbrio entre corpo, mente, emoções e espírito

Dispostas em um grande círculo elas iniciaram a cantar e dançar e balançar as mãos. A ordem era não ficar parada. “Mexer é vida” diziam. Com exceção deste cronista e de duas crianças de que brincavam na mesa ao lado com o celular da mãe, toda a casa entrou neste círculo energético. Senhoras de cabelos brancos mostravam uma alegria contagiante, um sentimento envolvendo que deixou uma mensagem. A mesma que a música que Oswaldo Montenegro ensinava no ambiente:

“Se alguém disser pra você não dançar / Que nessa festa você tá de fora / Que você volte pro rebanho / Não acredite, grite, sem demora… Eu quero ser feliz agora / Eu quero ser feliz agora”

Paulo Rogério é jornalista e cronista (paulorogerio42@gmail.com)

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