Com o título “Fausto L’amour, o Bloco do Prazer!”, eis artigo de Mauro Oliveira, professor do IFCE. Dedica ao amigo, o cantor e compositor Fausto Nilo, em seus bem comemorados 80 anos.
Confira:
Manhã de pré-carnaval, indo pra Dona Mocinha, encontrei Dorothy L’amour no bar do Anísio. Caminhamos, ombros dados, pés na areia, espuma ameaçando, pela enseada do Mucuripe. Suas velas explodiam ao vento, tal a saudade matando em mim … de Augusto Ponte e sua turma! Dorothy e eu começamos a cantar …
“Quando fevereiro chegar, saudade já não mata a gente. A chama continua. No ar, o fogo vai deixar semente, a gente ri a gente chora, fazendo a noite parecer um dia… O teu amor faz cometer loucuras.”
A luz do sábado rasgava os céus da baía do Náutico, energizando meus sonhos adolescentes. Já no aterro do Ideal, o arco-íris acudia uma montanha de nuvens que saia de dentro do mar! Corríamos e cantávamos …
“O azul de Jezebel no céu de Calcutá, feliz constelação. Reluz no corpo dela, ai tricolor colar ! Az de Maracatu no azul de Zanzibar, ali meu coração, zumbiu no gozo dela…”
Já em frente ao Estoril, as ondas se disputavam com o quebra e nos hipnotizavam ao beijar a areia, remetendo-me à lembranças das piscininhas de Iracema. Saltitávamos, braços alados, ao som do Bloco do Prazer…
“Pra libertar meu coração, eu quero muito mais que o som da marcha lenta. Eu quero o novo balancê e o bloco do prazer que a multidão comenta…. Vem meu amor feito louca que a vida tá pouca e eu quero muito mais.”
O pôr-do-sol despencava da Ponte Metálica, desdenhando da velha briga do rochedo contra o mar, como se estivesse atravessando o Atlântico a nado!
“Atravessei os sete mares e por todos os lugares por onde andei você me dava a vida. Foi uma dádiva da natureza essa coisa acesa que hoje vejo em ti.“
No chuvisco da noite, chegamos, corações dados, ao Dragão do Mar. A lua cheia, cheia de graça, holofotizava o planetário do Dermeval em vigília aos foliões dançando na praça.
“Meu amor que ficou, nessa dança meu amor, tem fé na dança. Nossa dor meu amor, é que balança nossa dor, o chão da praça…”
Mas, mais que de repente, em meio a turbas e batucadas, desconectei-me milisegundos do seu olhar. Procurei-a faustivamente na multidão. L’amour parecia tão real, como uma “caravana do deserto ao atravessar meu coração”. Mas …
“Era miragem, fantasia de um mundo blues”
*Mauro Oliveira
Professor IFCE.