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“Linhas do tempo”, por Roberto Victor

RpbertoVictor, presidente de honra da Academia Brasileira de Direito

Com o título “Linhas do tempo”, eis crônica de Roberto Victor, advogado, professor e presidente de honra da Academia Brasileira de Direito. Aproveite esta boa leitura.

O escritor lusitano José Saramago (1922-2010) gostava sempre de dizer que “Das habilidades que o mundo sabe, essa é a que ele ainda faz melhor: dar voltas!”.

O mundo não tem a forma global à toa. Há de ter uma explicação metafísica para isso. O mundo roda – a Terra tem um movimento de translação que lhe permite reverenciar a luz cristalina do sol em todos os seus lados. Se a gente pudesse contar as voltas que o mundo dá…

Poderíamos explicar, prevenir, interpretar muitos fatos e acontecimentos.

Escrevo esse artigo para contar dois fatos que ajudam na compreensão das voltas que o mundo dá e as linhas do tempo. Nós vivemos diante de um tempo chronos enquanto a Teologia nos ensina que o tempo do céu (paraíso) é o tempo Kairós.

Março de 1969, às 00:43h de uma noite taciturna na antiga Fortaleza dos verdes mares bravios, um jovem de 18 anos praticava um de seus costumes favoritos: escutar rádio na frequência AM esperando que Hipnos o convidasse para um colóquio.

De repente ele escuta outro jovem falando: É sr. fulano (radialista comandante do programa) eu tenho uma música e gostaria muito que o cantor beltrano (na época um dos maiores cantores do Brasil e um dos maiores salários da televisão brasileira) gravasse, mas fui levado por um amigo (cantor de muita fama que ganhou projeção internacional) ao seu encontro e o mesmo sequer pôde me receber.

O jovem ouvinte de 18 anos pensou: “pera ai, eu posso ajudar esse neófito cantor”. Foi ao seu encontro na sede da rádio e de lá para cá são 44 anos de uma relação fraterno-familiar. O ouvinte tentou ajudar, mas também não obteve sucesso. Após 20 anos o neófito cantor, que desejava apenas que um dos maiores intérpretes da música brasileira gravasse sua humilde composição, se torna um dos maiores ícones da musicalidade nacional e internacional em seu gênero e, por linhas do tempo e voltas do mundo, ultrapassa em fama, dinheiro e sucesso o seu ídolo.

Há 10 anos, em 2013, o referido cantor lançou um novo CD com 13 faixas, todas de composição daquele cantor que um dia lhe negou um simples encontro para falar de músicas.

O mundo girou e quem estava no chão se levantou e mesmo com vertigem pelas voltas permanece de pé.

Em outra situação, um recém-formado advogado inicia sua labuta trabalhando como Procurador do Estado. Lá pelas tantas, conversa com um colega a respeito de uma vaga de jurista em um Tribunal. Entretanto, para se chegar a esta vaga era necessário três coisas: competência, política com o governador (a nomeação pertence ao chefe do Executivo estadual) e, por fim, ultrapassar a fase de sabatina na Assembleia Legislativa do Estado.

Por essas voltas do mundo e pelas linhas do tempo, o brilhante causídico não conseguiu chegar onde queria. Muitos anos depois, um outro tribunal abre vaga para advogado. Sentindo em seu coração que, como advogado, já havia colaborado muito para a sociedade, veio a necessidade de servir ao Estado como magistrado.

Tentou e conseguiu ser nomeado.

Poucos anos depois, o mesmo advogado consegue alçar voo até um tribunal superior do país, sua missão agora é de nível federal.

Já pensou se o famoso cantor de 1969 tivesse gravado a música do jovem artista da rádio?

Hoje ele seria uma referência mundial em seu gênero musical?

Se o competente advogado tivesse conseguido chegar ao tribunal pretendido pouco tempo depois de sua gênese profissional, estaria ele hoje servindo a sociedade de forma muito profícua a nível nacional?

Resposta: só as voltas do mundo e as linhas do tempo poderiam responder.

*Roberto Victor,

Advogado, professor e presidente de honra da Academia Brasileira de Direito.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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