– Mirelle, eu quero comprar seu livro “Não Preciso Ser Fake”, quanto é?
– 50 reais.
– Vixe, é tão caro assim? kkkkkkkkkkkkk
O comentário que eu reproduzo aqui é real, de uma amiga (até então) e está até hoje eternizado na minha rede social. Ela viu comentários sobre meu livro e demonstrou interesse em comprá-lo até saber o valor. Fico pensando quanto ela achava que custava a obra, 9,99?
Aplausos nas redes sociais não querem dizer valorização. Rede social é ilusão! A questão não é apenas o valor monetário da obra, mas o apoio embutido naquela compra, a validação que todo mundo que está começando precisa. É muito difícil você vender um exemplar do seu livro para um parente ou amigo que, muitas vezes, acha que, por ser alguém tão próximo, deveria ganhá-lo, sendo que a lógica é justamente o contrário. Você que está próximo daquele escritor precisa valorizá-lo. Eu sinceramente me arrependi de ter presenteado tanta gente com o meu livro, sabe por quê? A maioria dos/as agraciados/as não leram o livro e, se leram, nunca vieram falar comigo. O que é de graça não tem valor.
Perguntei ao nosso jabuti, Mailson Furtado, se livro é caro e ele me fez refletir. “Muito desse sentimento de senso comum relacionado ao valor do livro se dá por conta que muitos pensam no livro como algo efêmero, mas o livro é um bem durável e perene quando comparamos a um sapato, por exemplo. Tudo que nós compramos acaba sendo uma escolha e influência dessa nossa percepção”, aponta Mailson Furtado, vencedor do Prêmio Jabuti, em 2018, na categoria livro do ano e poesia.

Wilson Júnior é autor de vários livros no gênero literatura fantástica e já foi selecionado em diversos editais e premiações literárias, inclusive em São Paulo. Este ano, realizou o sonho de ter um estande na Bienal Internacional do Livro do Ceará. Na área da literatura, ele é um investidor. “O livro é caro proporcionalmente ao que se ganha no Brasil, principalmente se temos como base o salário mínimo. O livro, porém, não é caro como produto.
O problema é a nossa percepção de preço com relação ao livro, já que esse teve um valor depreciado com a chegada de livrarias como Saraiva, Submarino e Americanas que sufocaram a maioria das livrarias de ruas do país com livros de dez e vinte reais. Temos hoje um mercado literário que vende cada vez menos livros e, em paralelo, profissionais mal remunerados, como autores, revisores, capistas e outros profissionais. É muito complexo falar que um livro é caro”, aponta Wilson Junior, escritor e professor de escrita literária.

Para fechar o parêntese, o mais engraçado nisso tudo é que eu sempre fiz meu cabelo com esta amiga e nunca questionei o valor do seu serviço.
A jornalista e crítica literária, Lilian Martins, leu meu livro e contou que a obra a fez refletir sobre muitos aspectos da nossa vida. “O livro me levou para outro lugar”, disse.
Obrigada, Lilian! Essa passagem custou cinquenta reais. Que bom que você soube aproveitar a viagem.
Eu concedi uma entrevista para a Lilian Martins que foi ao ar na Rádio FM Assembleia, no programa apresentado por ela, o “Autores e Ideias”. Provocadora, Lilian me fez refletir sobre aspectos que nem eu havia pensado antes. Tão bacana quando alguém que te entrevista realmente leu seu livro. Vi-me surpreendida em várias perguntas (hahahahaha)
*Quem quiser conferir, pode acessar o link: https://aleceplay.al.ce.gov.br/episode.php?id=2288
Respostas de 3
A questão em torno do valor do livro é complexa e multifatorial: econômica, política, social, educacional etc etc etc.
Parabéns pelo texto e pela reflexão!
Comentário sobre a Bienal de Livros
Recentemente, li um texto sobre a Bienal de Livros e achei interessante, mas também pertinente. Como leitor e pessoa comum, gostaria de compartilhar minhas impressões sobre o evento.
Nas poucas vezes que visitei a Bienal, comprei livros técnicos (jogos digitais, design e programação) e quadrinhos. No entanto, encontrei dificuldades para encontrar opções acessíveis, pois os preços nesse nicho são mais altos. Além disso, noto que autores regionais não são muito divulgados, e embora tenha amigos que escreveram livros, não consegui comprar todos.
Minha opinião é que o evento pode ser inacessível devido aos preços altos. Muitos livros têm valores exorbitantes, acima de R$ 80,00. Embora alguns títulos sejam mais acessíveis, não me atraíram pessoalmente. Como fã de HQ, não encontrei opções que me interessaram inicialmente.
Um dos motivos de estar nesse grupo é justamente conhecer autores e descobrir novas obras. No entanto, nas edições anteriores da Bienal, notei uma grande quantidade de livros de autoajuda, que muitas vezes não oferecem conteúdo novo e são caros.
O ranking atual de livros também me chamou a atenção, com livros de colorir e autoajuda dominando a lista. Acho que a população perdeu o senso de prazer pela leitura e agora vê a leitura como obrigação ou algo útil, o que torna a experiência menos atraente.
Como professor de Desenvolvimento de Sistemas, vejo que muitos alunos têm preguiça de ler e escrever, o que é preocupante. Acredito que a área de Humanas é fundamental para a criatividade e a capacidade de criar narrativas e mundos imaginários.
Por isso, acho importante apoiar a literatura e outras mídias, como quadrinhos. Desculpe a informalidade do texto, mas quis expressar minhas opiniões de forma sincera.
É curioso porque muitos não acham caro pagar por um ingresso ao estádio ou a um show porque afirmam ser uma experiência única e incrível e eu fico pensando será que o livro não é também essa experiência única e incrível? E o melhor ainda segue ali na rua estante para você reviver esse encantamento! A percepção sobre o quanto pagar por uma pizza as vezes parece ser mais fácil do que pagar o mesmo valor em um livro que te dará um prazer mais duradouro do que uma digestão! Mas mesmo assim há quem não se importe com isso…