Com o título “Melancólico final”, eis artigo de Djalma Pinto, jurista, escritor e ex-procurador-geral do Estado. “Uma geração de homens públicos tem se sucedido sem compromisso algum com o seu próprio conceito, com a sua reputação. Por isso, a exigência constitucional de probidade dos governantes não consegue se concretizar”, expõe o articulista.
Confira:
Em São Paulo, ao passar na Marginal Pinheiros, o interlocutor me informa: “essa foi uma obra de Paulo Maluf com grande utilidade para São Paulo”. Concluiu, entretanto, sua informação com este desconfortável registro, comum a muitos políticos do Brasil: “fez, mas roubou”.
O jovem e brilhante jurista português, Eduardo Antônio da Silva Figueiredo, em seu livro, “O Princípio Anticorrupção e o seu papel na defesa e efetivação dos Direitos Humanos”, anotou: ‘Mesmo já depois da democratização do regime, a corrupção continua a encontrar formas de manter o seu estatuto de verdadeira patologia do sistema sociopolítico brasileiro”.
Uma geração de homens públicos tem se sucedido sem compromisso algum com o seu próprio conceito, com a sua reputação. Por isso, a exigência constitucional de probidade dos governantes não consegue se concretizar. Empresários como Paulo Maluf, embora milionários, não resistem à obsessão criminosa de desviar dinheiro público. País sem sorte esse Brasil.
Políticos pobres, por sua vez, enriquecem, ilicitamente, após a investidura no poder. Pessoas abastadas, ao serem nele investidas, buscam maximizar, ilegalmente, o seu patrimônio. Todos sem preocupação alguma em legar bons exemplos para as novas gerações. A consequência não poderia ser outra: uma sociedade marcada pela desigualdade, pobreza e muita, muita violência.
No final da vida, velhos e alquebrados, os políticos, como Maluf, amargam a solidão e o desapreço daqueles que, ingenuamente, lhe confiaram a guarda do cofre onde depositavam os seus impostos. A característica maior desses líderes é a indiferença para com a sua própria honra. É na velhice, porém, que percebem o equívoco de suas ações. Relegados à generosidade de cuidadores anônimos, deixam para a posteridade a lição amarga de que o dinheiro conquistado, no exercício ilícito do poder, de nada vale por sepultar a honra, o maior e mais valioso patrimônio de uma pessoa lúcida.
Aristóteles captou isso, na antiguidade: aqueles que optam pelo poder e pela riqueza, considerando a honra algo pequeno e indiferente, acabam sem magnanimidade. “É por isso que se passam por soberbos” enquanto desfrutam o vigor da vida, antes de serem abatidos pela senilidade. Com a chegada desta, o humilhante repúdio do povo comprova os efeitos danosos do exercício do poder sem respeito à integridade.
Djalma Pinto,
Autor de diversos livros, entre os quais “O Direito e o Comprovante Impresso do Voto”,” Ética na Política” e “Distorções do Poder”.