Em referência ao Agosto Lilás, mês da conscientização e enfrentamento à violência contra as mulheres, a jornalista e escritora Mirelle Costa relata diariamente, neste espaço, casos que servem de alerta a todos nós
Confira:
(O texto abaixo foi escrito por uma mulher vítima de violência doméstica, atendida na Casa da Mulher Brasileira, em Fortaleza. O texto compõe a obra “Após a Morte do Conto de Fadas, a Ressurreição”, publicada pelo Senado Federal, e organizada pela jornalista e escritora Mirelle Costa. Este texto pode conter gatilhos emocionais que podem afetar algumas pessoas).
Somos mulheres fortes, guerreiras, insistentes, como um cristal a ser lapidado todos os dias. No dia a dia, acontece de um tudo. Sou forte até ouvir a dor do próximo e tentar ajudar a resolver a situação. Ao ouvir, sinto a revolta e começam a chegar os pensamentos ruins:
— O que pode ser feito para colocar um ponto-final nisso tudo?
Vejo mulheres próximas ao agressor e me pergunto o que elas ainda estão fazendo ali. Não acredito que estejam “cegas de amor” ou passando por necessidades. Correr atrás dele por não aceitar que acabou, mesmo que isso lhe custe a vida ou que venha a ter cicatrizes pelo corpo, é pior que não saber o que fazer ou para onde ir.
Na verdade, é difícil desmanchar um “pilar”, em que passamos a idealizar a pessoa, de tal forma que não aceitamos o fim. Vamos carregar isso conosco até a morte e, ainda mais, quando ficam filhos; aí a dor é o dobro, pois, na nossa cabeça, é difícil explicar para um filho como passamos por tudo e tentar esquecer que um dia fomos vítimas de uma pessoa, um agressor, por quem demos a vida e, em troca, fomos espancadas e carregamos traumas.
Desejo que as palavras de outra pessoa não façam tanto efeito na sua vida e, sim, eu sinto que você quer mudar. Você pode fazer diferente mesmo com críticas ou obstáculos na frente. Mostre que você, eu e todas nós somos fortes (igual dor de barriga).
Somos o que precisamos ser; somos garra e força. Podemos mostrar que não dependemos do próximo para recomeçar a ser feliz, só basta você se enxergar como uma mulher forte.
Seja forte como uma pedra. Seja forte como o sol. Seja forte como o vento. Seja forte e viva como todos os dias renascem. Faça tudo de novo.
Para um bom recomeço, comece sendo forte…
Como uma fênix
(Diante de qualquer situação de violência doméstica, ligue 180, é a Central de Atendimento à Mulher, um serviço telefônico do governo federal que oferece acolhimento, orientação e informações sobre os direitos das mulheres, além de receber denúncias de violência contra a mulher)
Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing