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“No calor do Piauí”

Maurício Filizola é empresário e diretor do Sincofarma/CE

Em artigo sobre a virada do ano, o empresário Maurício Filizola fala sobre o sentimento de se passar o réveillon com os bons amigos. Confira:

Eu não sei onde o réveillon deste ano foi mais acalorado. Se em Copacabana, embalado por Luísa Sonza, se na Praia de Iracema, ao som do DJ Alok ou se no meu sítio fonte Santa Branca, no interior do Piauí, onde eu tangi 2023 e recebi 2024 cantarolando, num karaokê, a música Evidências (o hino da sofrência), acompanhado por um coro de poucos, mas bons e pacientes amigos.

Se virada de ano boa é aquela em que você abraça pessoas, leva banho de espumante na roupa branca, reata com parentes perdidos nas discussões políticas dos grupos de zap e renova, num frisson coletivo, as esperanças para o ano que se inicia, posso garantir que no Piauí foi melhor até do que em Paris, onde as pessoas preferiram filmar no celular a vibrar com a chegada do Ano Novo.

Ah, no Piauí, num tem disso não! A primeira coisa que a gente faz ao chegar lá é um detox de celular. Esquecemos propositalmente deles. Acessamo-los apenas quando dá tempo. Porque primeiro as coisas primeiras. Futebol, beach tênis, trilhas, banho na fonte, forró e karaokê e até um jogo bem engraçado chamado balde. Afinal, na vida o que mais conta é o que não se conta. Como a felicidade.

A propósito: uma das coisas que a gente poderia começar a mudar em 2024 era isso: a nossa relação com a tecnologia. Não que ela seja ruim. Pelo contrário. Uma das maiores revoluções que já ocorreram à raça humana foi a das telecomunicações. Derrubou fronteiras, encurtou distâncias, democratizou o acesso a informações e viabilizou o compartilhamento de conhecimento. Mas a gente precisa sempre dominá-la. E não ser dominado por ela, que é o que parece que vem ocorrendo.

As imagens do réveillon da Capital da França, que circularam e espantaram o mundo pelo seu ineditismo, me reforçaram essa constatação: nós estamos perdendo a noção sobre o uso do celular. A cena patética de um rebanho de gente com o telefone apontado pra cima, procurando o melhor close para registrar a queima de fogos, na Avenida Champs Elysée, ignorando o próximo, o fato, os costumes, a cultura da data, foi bem ilustrativa do estágio de letargia social em que nos encontramos hoje em dia.

O pior é que nem adianta colocar a culpa na frieza dos franceses, da qual muitos turistas reclamam. No Brasil também ocorre esse tipo de alienação. E, o pior: com mais e mais frequência. Em março do ano passado, em um show no estádio do Morumbi, foi preciso o vocalista da banda Coldplay, Chris Martin, interromper bruscamente a música “A Sky Full Of Stars” e pedir para que as pessoas, em vez de filmar, curtissem o momento. É que a gente tem preferido encher a memória do celular e esvaziar a afetiva. Fazer o quê…

O jeito é se asilar no calor do Piauí!

Maurício Filizola é empresário e presidente do Sincofarma-CE

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