“Novas promessas para 2026” – Por Paulo Rogério

Paulo Rogério é jornalista.

“O mundo precisa de atitudes melhores, de ajuda imediata. Ele pede socorro”, aponta, em seu artigo semanal, o jornalista Paulo Rogério

Confira:

Levante o braço quem se recorda das promessas feitas no final de 2024. Aquelas que eram tidas como metas prioritárias para 2025. Pode olhar na agenda ou no celular, sem problema. Eu acredito, modestamente, que a grande parte das pessoas, nem lembra mais. O tempo fez esquecer cada uma delas. Fica até difícil conferir se alguma saiu da fase teórica e virou realidade. Acho até que umas duas ou três estão na minha relação há anos e eu só adiando, adiando.

Então vamos lá, estamos em dezembro e é hora de refazer a lista. Todo mundo faz mesmo. Faça a sua. Tire da gaveta algum projeto antigo, um sonho, simples que seja. Coloque na sua relação e, depois, veja se dá certo. Eu vou começar. Prometo, por exemplo, em 2026 usar menos celular e ler mais livros. Ah, diriam os mais jovens, você pode ler livros no próprio celular, basta ter o programa certo.

Até posso. E já tentei. Mas não tem nada igual a ter o livro impresso na mão e a pose para ler. Poder abrir em qualquer lugar sem preocupação com bateria fraca, tela azul, mensagens de zap atrapalhando e alguém resmungando lá de longe:

– Sai desse celular! Larga isso e vai fazer algo útil!

Até explicar que estou relendo “A Vida Como Ela É” de Nelson Rodrigues, a cantilena já ecoou pela sala. Não tem “Engraçadinha” que faça recuperar a concentração. Nestas horas me recordo das coisas de criança, quando a gente colocava as revistas ilustradas de catecismo do Carlos Zéfiro – quem é dos anos 70 conhece essas obras – entre os livros de Educação Moral e Cívica e fingia que estava estudando. Se na prova o resultado não era bom, o nível de testosterona ficava equilibrado.

Pois bem, prometo ainda que em 2026 cuidarei melhor do meu ser espiritual. Deixar um pouco mais as teorias e filosofias de lado e seguir para a parte prática. Ter mais ação e menos proselitismo. O mundo precisa de atitudes melhores, de ajuda imediata. Ele pede socorro. Estive em um evento esportivo no último sábado, no Marina Park, na avenida Leste Oeste. Confusão geral no trânsito e flanelinhas fardados cobrando R$ 30 para colocar carro próximo da Estação das Artes e em local proibido. Um assalto logo às 5 horas, nas barbas dos agentes da AMC. O loteamento do espaço público.

Estacionei bem mais adiante e fui andando. Uma caminhada inteira com o nariz tapado. O odor de urina e lixo estava por todo canto. É o cheiro do Centro de Fortaleza. Corpos se escondiam entre pedaços de papelão e trapos de pano. Na escadaria do viaduto, dois vultos sem camisa, se equilibravam nos degraus. No gradil do majestoso hotel, havia uma exposição de tapumes. Um cachorro enorme bocejava diante daquele movimento na rua. A contradição da sociedade dividia o espaço. O luxo do lado de dentro. A miséria humana do lado de fora, exposto na calçada.

Que venha 2026!

Paulo Rogério

Jornalista

(paulorogerio42@gmail.com)

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