“Determinadas proposituras são descabidas, por se tratarem de questões morais não afetas ao Estado, como é o caso das uniões homossexuais e, em especial, do aborto, as quais dizem respeito à crença das pessoas”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves.
Confira:
Muitas pessoas se admiram com o crescimento da participação dos cristãos na política. Talvez, em face do crescimento, entre nós, dos contigentes de evangélicos/protestantes, nos anos pós-Concílio Vaticano II. Isto ocorreu em razão do tal “aggiornamento” proposto pelo Papa São João XXIII, que ensejou uma ampla abertura ao ecumenismo e ao diálogo interreligioso. O crescimento dos cristãos evangélicos estimulou-os a uma maior inserção na atividade política, deles exigindo maiores responsabilidades enquanto cidadãos com os pés na terra e não apenas voltados para a Cidade de Deus. Antes, o espaço político era ocupado quase que totalmente por cristãos católicos, em especial os membros do clero, os quais têm grande participação na história política do Brasil e também do Ceará. Basta ver a quantidade de padres que exerceram mandato parlamentar na Assembleia Legislativa cearense, afora aqueles que foram protagonistas em episódios revolucionários da nossa história.
No século XX poucos foram os evangélicos que se notabilizaram na política cearense, disputando eleições. Lembro-me do industrial, professor e pastor presbiteriano Natanael Cortez, deputado estadual ainda durante a República Velha. Posteriormente ocupou cadeira no Poder Legislativo o pastor Salatiel Teixeira e nos anos 1970 o presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil-IPB Airton Maia Nogueira, que exerceu também o cargo de Conselheiro do então Conselho de Contas dos Municípios.
O século XXI já encontrou os cristãos evangélicos com dinâmica atuação na política partidária, sobretudo a partir da Assembleia Constituinte de 1988. Não tanto em quantidade, mas sobretudo em influência do pensamento cristão nas decisões que definem políticas públicas, os evangélicos passaram a equivaler-se aos católicos. Juntos têm alcançado vitórias significativas, não apenas no quesito eleitoral, mas na ação parlamentar, quer propositiva, quer de negação ao impedir propostas conflitantes com valores cristãos que chegam aos Parlamentos. Até porque determinadas proposituras são descabidas, por se tratarem de questões morais não afetas ao Estado, como é o caso das uniões homossexuais e, em especial, do aborto, as quais dizem respeito à crença das pessoas.
Neste pé, impõe-se lembrar que cristãos têm compromisso com valores inegociáveis ditados pela sua fé. Assim, o cristão católico ou evangélico, consciente de sua responsabilidade moral perante as doutrinas de sua Igreja, não pode jamais votar em candidatos que integrem partidos ou coligações/federações cujos programas destoam ou divergem dos mandamentos do Cristianismo. Ainda que apresentem-se com discursos e promessas humanistas, fundadas em respeito aos mais diversos direitos, se o candidato pertence a agremiação partidária de história anticristã, deve ser rechaçado, sob pena do eleitor cristão cometer grande pecado, caso sufrague o nome do impostor. Por pertinente, lembre-se a admoestação de São Paulo. Segundo o Apóstolo dos Gentios, Satanás pode se apresentar como anjo de luz. (II Cor. 11.14). É doutrina católica, por exemplo, que o voto em candidato comunista ou aliado de comunista, é totalmente vetado. A punição para quem se filia ou vota em comunistas é a excomunhão “latae sententiae”, isto é, automática. O que dispensa um processo formal para a aplicação da punição canônica pela autoridade eclesiástica.
Quanto a esses aspectos não há lugar para rodeios nem tergiversações. O ordenamento bíblico é peremptório: importa antes obedecer à Deus do que aos homens, como sentenciou o Apóstolo São Pedro (Atos dos Apóstolos, 5.29).
Barros Alves é jornalista e poeta