Com o título “O descontrole de Édipo e a mediação de conflitos”, eis mais um art6igo de Plauto de Lima,Coronel RR da PMCE e mestre em Políticas de Planejamento Público. “Com base nessa história mitológica, é evidente que, assim como no passado uma discussão banal se tornou uma fatalidade, frequentemente pequenas ocorrências — como desentendimentos no trânsito ou até dentro de casa — evoluem para crimes bárbaros”, expõe o articulista.
Confira:
Sófocles, por meio da tragédia grega Édipo-Rei, apresentou à humanidade, há aproximadamente XXV séculos, uma de suas obras-primas. Essa tragédia já foi utilizada anteriormente por Freud como exemplo para justificar as perversões humanas, a que ele chamou de “Complexo de Édipo”. Mas não apenas a Psicologia, por meio da Psicanálise, percebeu traços comportamentais nessa história mitológica. Lendo os textos de Sófocles, encontrei situações que se relacionam com a Segurança Pública e podem nos mostrar um bom caminho para a diminuição da violência e da criminalidade, utilizando a mediação de conflitos.
A história narra que Laio, rei de Tebas, ouve do oráculo de Apolo, em Delfos, a terrível predição: se tiver um filho, será assassinado por ele, e sua mulher será sua esposa. Quando sua mulher, Jocasta, dá à luz a um filho, Laio decide entregá-lo a um camponês com a ordem de matá-lo. O camponês, no entanto, não consegue cumprir a ordem e entrega a criança a um companheiro, que, por sua vez, a leva para Políbio, rei de Corinto, que a cria como filho e a chama de Édipo.
Anos depois, Édipo resolve consultar o oráculo de Delfos, que afirma que o destino lhe reserva um duplo crime: matar seu pai e casar-se com sua mãe. Para evitar o cumprimento da profecia, Édipo decide fugir para Tebas. O autor utiliza como cenário a encruzilhada de Megas, onde as estradas de Tebas e Dálus se bifurcam, para o início dessa tragédia grega.
As carruagens de Édipo e Laio se cruzam nesse ponto da estrada, e dá-se início a uma discussão. Trazendo a situação para os dias de hoje, seria representada por mais uma das milhares de discussões diárias no caótico e estressante trânsito das grandes cidades brasileiras. Édipo se altera com um cocheiro (o motorista) e seu senhor (o passageiro) e, no auge da irritação (estresse), mata ambos. Sem saber, cumpre a primeira parte da profecia do oráculo, pois o passageiro é Laio, seu pai.
Com base nessa história mitológica, é evidente que, assim como no passado uma discussão banal se tornou uma fatalidade, frequentemente pequenas ocorrências — como desentendimentos no trânsito ou até dentro de casa — evoluem para crimes bárbaros. Esse tipo de situação poderia ser evitado se houvesse meios eficientes para resolver esses conflitos, daí a importância da mediação de conflitos para a segurança pública.
A mediação é um procedimento consensual de resolução de conflitos em que uma terceira pessoa, o mediador, imparcial e aceita pelas partes, auxilia na construção do diálogo, encorajando e facilitando a resolução dos problemas. Por meio da mediação, busca-se encontrar os pontos de convergência entre os envolvidos, que possam amenizar a discórdia e facilitar a comunicação. Muitas vezes, as pessoas estão tão ressentidas que não conseguem ver nada de bom em seu relacionamento. A mediação estimula, por meio do diálogo, o resgate dos objetivos comuns entre os indivíduos que estão enfrentando o problema.
A ideia de que o conflito é importante para a formação do indivíduo e da coletividade faz com que as posturas opostas deixem de ser vistas como algo exclusivamente negativo e passem a ser compreendidas como parte da convivência humana. Conflitos são normais e sempre vão acontecer de diversas formas. Quando se percebe que um impasse pode ser um momento de reflexão e, consequentemente, de transformação, isso se torna algo positivo.
Em síntese, o conflito, geralmente visto como algo negativo, é considerado pela mediação como algo positivo, natural e necessário para o desenvolvimento das relações. A boa administração desse conflito é o caminho para o entendimento e a harmonia entre as partes. Assim, a mediação se configura como um instrumento essencial para a promoção da paz social e a redução da violência.
*Plauto de Lima
Coronel RR da PMCe e Mestre em Planejamento de Políticas Públicas.
P.S: Caso tenha interesse de conhecer mais a história mitológica citada neste artigo recomendo o livro de Sófocles, “Édipo Rei”.
Uma resposta
Plauto,
Parabéns pela análise perspicaz e profunda! A forma como a nota aborda a complexidade dos conflitos humanos e a relevância da mediação traz uma reflexão importante e atual. Um texto que instiga o pensamento crítico e enriquece o debate.