Com o título “O Impacto da Instalação de Campi Universitários em Cascavel/CE”, eis artigo de Nelson Bessa, bacharel em Ciências Econômicas, mestre em Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB, servidor público federal aposentado e ex-secretário de assuntos internacionais do governo do estado do Ceará
Confira:
As instituições de ensino superior no Brasil, de acordo com o Ministério da Educação, ofertam centenas de milhares de vagas pelo país afora. Além do aspecto de propagação da educação universitária no território e da maior qualificação do capital humano, esse número sustenta a movimentação de pessoas nas cidades que abrigam essas organizações, gerando consequências para a economia, a estrutura urbana e a logística de transportes dos municípios e populações locais.
De fato, as universidades possibilitam aos lugares onde se instalam conexão com o mundo ao mesmo tempo em que se enraízam local e regionalmente e se conectam globalmente, com significativos efeitos nos circuitos de produção e consumo da economia que repercutem de forma multiplicadora nas estruturas espaciais, sobretudo das cidades nas quais estão localizadas. O conjunto de suas atividades passa, portanto, a dar origem a uma força de atração de consumidores e empresas, contribuindo para gerar um crescimento econômico-social local e regional (1).
A anunciada instalação de campi do Instituto Federal do Ceará (IFCE) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE) na cidade de Cascavel vai acarretar certamente impactos positivos sobre o desenvolvimento da cidade pela maior criação de oportunidades de emprego para os mais jovens através da formação acadêmica e profissional no próprio município, reduzindo o êxodo de mão de obra juvenil local para a capital do estado e gerando inclusão social no interior. Mas também acarretará muitos desafios (2).
A ampla literatura disponível mostra o quanto essa descentralização aberta pela política nacional de democratização do ensino superior vem contribuindo para reduzir a concentração de recursos nas capitais e nas maiores cidades a favor das cidades médias e menores e reduzir as assimetrias de crescimento e de bem-estar entre as áreas urbanas e rurais no país. Tais impactos merecem do poder público estadual e municipal um esforço de planejamento estratégico no sentido de preparar o município para enfrentar os desafios que virão com o aumento da população estudantil nos campos da mobilidade urbana e da prestação de serviços qualificados de moradia, alimentação e lazer para acolher os jovens oriundos de áreas próximas que se deslocarão à nova cidade universitária para estudar (3).
A instalação dos campi trará para o município, em primeiro lugar, um incremento de renda pela vinda de docentes e funcionários efetivos para operar as unidades de ensino, em geral com salários médios bem acima da remuneração média paga no local. Esse aspecto ocorreu em inúmeras cidades do país onde se implantaram campi universitários (4). Quando não se mudam para a cidade, muitos alunos vêm de suas cidades na vizinhança nos períodos de aula e, com isso, acabam consumindo e movimentando a economia do município de Cascavel, que já conta hoje com mais de 72.000 habitantes (Censo IBGE, 2022). Além do aumento populacional que repercute no crescimento urbano, as universidades colaboram em outros aspectos para a região, como os serviços de extensão que interagem com os serviços públicos já prestados pelo município.
Cascavel perdeu espaço nas últimas três décadas no âmbito estadual na lista dos municípios mais importantes economicamente. A recente retomada do município nos campos de educação, cultura e de infraestrutura precisa ser reforçada por um planejamento de desenvolvimento mais abrangente que leve em conta a transformação do município numa cidade universitária. Esse debate precisa ser incorporado pela classe política local na formulação de propostas de política pública para consideração dos eleitores cascavelenses. O poder público municipal precisa estar alerta para as transformações em curso e habilitado a agir para se antecipar às tendências e tomar medidas para preparar a cidade e seu entorno para acolher os campi universitários, de modo a potencializar os impactos positivos daí advindos e minimizar eventuais efeitos negativos ou problemas que virão com o aumento populacional rápido e a pressão pela mobilidade urbana.
*Nelson Bessa
Bacharel em Ciências Econômicas, mestre em Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB, servidor público federal aposentado e ex-secretário de assuntos internacionais do governo do estado do Ceará.
Referências Bibliográficas:
1) Cf. Antônio de Oliveira Júnior. A universidade como polo de desenvolvimento local/regional. Caderno de Geografia, vol 24, número especial 1, 2014.
2) Cf. Cascavel ganha campi do Instituto Federal e o da UECE será o próximo. Ceará Leste, 14/03/2024.
3) Cf. Wendel Henrique Baumgartner. Cidades Universitárias, Cidades Médias, Cidades Pequenas:
4) Análises Sobre o Processo de Instalação de Novos Campi Universitários. Espaço Aberto, PPGG – UFRJ, V. 5, N.1, p. 73-93, 2015.