“Muito já foi dito de Gonzaga, mas a fala do pesquisador do Rio Grande, fala por só, por que é prenhe de sabedoria, vinda do peito de um conhecedor profundo desse Nordeste sofrido e vilipendiado, apesar de rico, em muitas coisas”, aponta o professor e historiador João Teles de Aguiar. Confira:
“Luiz Gonzaga”, diz (em 1973) Luís da Câmara Cascudo, o grande folclorista potiguar, “é uma legitimidade do sertão tradicional. Sua inspiração mantém as características do ambiente poderoso e simples, bravio e natural, onde viveu. Não imita. Não repete. Não pisa rastro de nome aclamado.” E vai desfiando adjetivos, para falar desse grande nome do Nordeste. Cascudo sabia tudo dessa terra e falava com propriedade absoluta. “Lua” foi grande demais.
E prossegue o mestre do RN:
“E ele, mesmo sozinho, inteiro, solitário, povoando os arranha-céus, com as figuras imortais do Nordeste, ardente e sedutor, fazendo florir cardeiros e mandacarus, levantando os mormaços dos tabuleiros, através das cidades tumultuosas, onde permanece.”
Aqui, Cascudo fala do Gonzaga desbravador de cidades, lugarejos, lugares, nesse País tão grande. Grande, como o homenageado. E fala um pouco das terras, por onde andava e militava, o grande bardo do Nordeste:
“Sertão sem rodovias, luz elétrica, gasolina. Vaqueiros, cantadores, romeiros de São Francisco de Canindé, Juazeiro, Santa Rita dos Impossíveis. Poeira heroica das feiras e das vaquejadas. Viola do rojão de dois-por-quatro, sanfonas de oito baixos, pobreza milionária, na emoção irradiante, inexplicável alegria das coisas suficientes.”
Foi esse sertão árido e complicado que Luiz alegrou, com seu xaxado, seu xote e se baião…
E continua Cascudo, derramando loas a Luiz Gonzaga, o nosso eterno e inesquecível “Rei do Baião”:
“Não posso compará-lo a ninguém. Luiz Gonzaga é uma coordenada humana, que as ventanias urbanas fazem vibrar sem modificação. Não é retentiva, artificialismo, sabedoria de recursos mentais ‘aproveitando’ o sertão. Ele próprio é a fonte, cabeceira e nascente de suas criações. (…).”
E, Cascudo vai longe, em seu texto-homenagem, sobre o nosso personagem. Muito já foi dito de Gonzaga, mas a fala do pesquisador do Rio Grande, fala por só, por que é prenhe de sabedoria, vinda do peito de um conhecedor profundo desse Nordeste sofrido e vilipendiado, apesar de rico, em muitas coisas. Um Nordeste ainda hoje (2024) xingado, atacado… Mas incapaz (falo aqui de seu sofrido povo) de fazer o que é errado, “de pegar no alheio”, mesmo em momentos cruciais, de desarranjado político-administrativo, como que vimos recentemente (na pandemia). Viva o Nordeste!
João Teles de Aguiar é professor e historiador
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Muito bem, professor João Teles! Luís da Câmara Cascudo é um grande folclorista, um profundo conhecer do folclore nordestino.