Com voz trovoada, dedo em riste e senhor da razão, o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes voltou a denunciar a prática de corrupção no governo do Estado, dessa feita durante evento da Prefeitura de Fortaleza, no bairro Presidente Kennedy, quando apontou que não haveria uma única obra sem a cobrança de propina. Diante de um habitual empoderamento, Ciro pede para ser processado, como forma de conseguir credibilidade em seus ataques contra aqueles os quais chamou de “Iscariotes” (traidores).
Mas, o que Ciro entende de corrupção?
Apesar de ainda contar com “o que sobrou” em mais de 15 anos de poder absoluto no Palácio da Abolição/Palácio Iracema, Paço Municipal, Legislativo Estadual e Legislativo de Fortaleza, além de algumas relevantes prefeituras do Interior e direcionamentos de emendas parlamentares no Congresso Nacional, Ciro não aceita que o seu reinado no Ceará entrou em decadência. O largo sorriso sarcástico que caracterizava o rei agora faz careta. O brilho no olhar agora é opaco e carregado de ódio. As palavras firmes agora pausam com engasgos…
Assim como perdeu o tempo de uma mudança natural, Ciro também não larga as definições do dicionário. Corrupção para o ex-ministro é roubar dinheiro, é enriquecimento ilícito.
No tempo em que Ciro ainda não aterrizou, corrupção é fechar de forma abrupta o maior hospital de referência no atendimento à mulher, o Gonzaguinha da Messejana, além de encerrar a emergência de outros dois hospitais de atendimento ginecológico e direcionar a demanda não sei para onde. Mas há alguma unidade de saúde em Fortaleza ganhando esses atendimentos.
Corrupção é fazer pessoas pobres pagarem a taxa do lixo, como ocorre com moradores do edifício Jalcy, na Duque de Caxias, enquanto moradores do Jatahy, no Jacarecanga, com renda per capta maior, são isentos, conforme entrevista e relato do prefeito Sarto, ao podcast “Que nem tu”, em abril do ano passado.
Corrupção é permitir o maior percentual no país de aumento na tarifa do ônibus e, meses depois, anunciar a gratuidade de uma passagem de ida e outra de volta para o estudante, somente em dias de aula.
Corrupção é ter forçado uma candidatura a prefeito a uma pessoa que não desejava a disputa, ao ponto de ter sido necessário pedir em live um “faz de conta” por parte dela para demonstrar algum interesse.
Mas, a maior das corrupções, é o autoconvencimento de que nunca fez parte do jogo.
Iscariotes pelo menos mostrou arrependimento…
Nicolau Araújo é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido
Uma resposta
Gde Nicolau, Orlando.
Bem pertinente seu texto em direção às necessárias reflexões acerca de nosso papel, enquanto as consequências dessas mazelas, inevitavelmente, cairão sobre nós, o povão.