Com o título “O que esperar”, eis artigo de Fátima Vilanova, doutora em Sociologia. “Os políticos elegem-se para sucessivos mandatos, mesmo enfrentando denúncias de compra de votos nas eleições, de desvios em licitações e em obras públicas, de falta de transparência e de zelo no trato dos gastos. É um escárnio”, expõe a articulista.
Confira:
A política está desacreditada no Brasil em face de privilégios e mordomias que os políticos se autoconcedem, e aos que lhe são próximos, como parentes e amigos, e ao descompromisso com as carência da população. As garras dos políticos sobre as instituições são visíveis e danosas, e, ainda, com a chancela das leis, criadas por eles. Tais leis autorizam a indicação de apadrinhados para a composição de tribunais de contas, cortes superiores, direção do ministério público, e de tribunais de justiça, os quais julgarão suas contas, num processo totalmente antidemocrático e não merecedor de confiança.
Os políticos elegem-se para sucessivos mandatos, mesmo enfrentando denúncias de compra de votos nas eleições, de desvios em licitações e em obras públicas, de falta de transparência e de zelo no trato dos gastos. É um escárnio. Eles fazem o loteamento da máquina com amigos, correligionários, e eleitores, estes, mediante contratos de terceirização. Representantes são eleitos para o Legislativo, e assumem cargos no Executivo, num total conflito de interesse, já que têm como atribuições, legislar e fiscalizar o Executivo. Os escândalos se escancaram com o uso de emendas parlamentares milionárias, de existência e de destinação questionáveis, e sem transparência, e da prática criminosa das rachadinhas.
Os partidos políticos são uma ficção a drenar os impostos dos contribuintes para os milionários fundos, partidário e eleitoral. As funções, que deveriam ter, são ignoradas: de formar quadros políticos comprometidos com a ética, com a busca do bem comum, da transparência; de fiscalizar as ações de seus candidatos eleitos, de discutir os problemas da população para encaminhar soluções. Os partidos constituem, na verdade, apenas uma formalidade com objetivo de registro de candidatura.
O que esperar de todas estas disfunções e vícios? Descontentamento da população, para dizer o mínimo, revolta, descrédito das instituições. Não é censurando as redes sociais que algo vai mudar, mas discutindo-se as causas do ódio, que precisam ser debatidas e corrigidas, para o aperfeiçoamento da democracia no Brasil. Se nada for feito, a polarização existente nas redes sociais tende a se agravar, resultando em mais discursos de ódio, de desrespeito às instituições democráticas.
A destruição da Lava-Jato é o pano de fundo, o caldo de cultura, a ponta do “iceberg”, que fomenta a divisão dramática da sociedade brasileira, que tanto tem criticado a atuação do STF. A Lava-Jato jamais deveria ser desmontada, mas corrigidas suas falhas, aperfeiçoando-se os mecanismos de combate à corrupção.
Observa-se a manipulação dos indignados das redes sociais por “raposas” da política, sem nenhum interesse em mudanças da estrutura viciada que os eterniza no poder. Tudo o que estes personagens desejam é desinformar, atiçar o ódio, visando fidelizar eleitores para solapar a democracia. Uma tragédia. O desfecho foi o da depredação das sedes dos três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, que deixou a sociedade perplexa, indignada, após o ex- presidente lançar suspeitas sobre as urnas eletrônicas, e de perder as eleições.
Um ponto que precisa ser discutido pela Corte, e que tem sido fartamente questionado na imprensa, é a condução do processo pelo ministro Alexandre de Moraes, que, ao mesmo tempo, é vítima, inquiridor, na delação de Mauro Cid, e julgador. Tal fato não levaria à anulação do processo? O ministro não estaria, naturalmente, impedido? Por que, também, não envolver o Plenário no julgamento da ação? A Lava-Jato foi destruída em decorrência de falhas processuais. A denúncia contra os participantes do 8 de janeiro de 2023, levada ao STF pela PGR, não pode ter o mesmo destino.
Os próximos capítulos, assistiremos, esperando a punição dos envolvidos na tentativa de destruição do Estado Democrático de Direito. Que as lições da Lava-Jato sejam assimiladas, com o respeito ao devido processo legal e a presunção de inocência dos denunciados, que o julgamento seja técnico e não político, e que sejam evitados tudo que possa configurar abuso de poder.
*Fátima Vilanova
Doutora em Sociologia.
Acompanhe-me no YouTube/@fatimavilanova6810: Democracia Radical. Meu livro: Está
tudo errado… (Disponível em Amazon)
Ver comentários (2)
Exatamente ! Mas os políticos ficam como se o povo não existisse Ignoram totalmente e colocam numa cerca invisível
Sou um admirador confesso da Doutora Fátima Vilanova, socióloga de absoluta vocação, cuja inteligência e vasto conhecimento a tornam uma referência incontestável em sua área. Seu compromisso com a pesquisa e a análise crítica confere a seus escritos um valor inestimável, pois não apenas registram a História, mas o fazem com isenção, profundidade e lucidez.
A autenticidade de sua abordagem transcende qualquer interpretação subjetiva, pois seu trabalho não se limita a versões ou narrativas parciais, mas sim à expressão fiel e rigorosa dos fatos. Sua produção intelectual reflete o verdadeiro espírito da Sociologia, que, enquanto ciência, se dedica a compreender e interpretar as dinâmicas sociais com objetividade, fundamentação teórica e compromisso ético.
A Sociologia, em sua essência, busca desvelar as estruturas, relações de poder e fenômenos sociais que moldam a vida em sociedade. Nesse sentido, a contribuição da Doutora Fátima Vilanova se alinha ao propósito maior dessa ciência: não apenas documentar os acontecimentos, mas analisá-los sob uma ótica crítica e imparcial, permitindo uma compreensão mais ampla da realidade e de suas transformações ao longo do tempo.
Seu trabalho não apenas registra a História, mas também a interpreta à luz de métodos científicos, contribuindo para a construção de um conhecimento sólido e confiável. Sua escrita é, portanto, mais do que um relato: é uma ferramenta essencial para a reflexão e o entendimento das forças que estruturam e reconfiguram o tecido social.
É esse rigor metodológico, aliado à clareza e profundidade de suas análises, que faz de seus artigos uma referência incontestável. São verdadeiros pilares da Sociologia aplicada, pois não apenas narram os fatos, mas os contextualizam e os inserem em um panorama mais amplo, permitindo que seus leitores compreendam não apenas o que aconteceu, mas também as razões e implicações desses eventos.
Assim, diante da obra da Doutora Fátima Vilanova, não há espaço para questionamentos infundados ou tentativas de distorção. Seus escritos representam a autenticidade dos fatos, tratados com a seriedade e a competência que a Sociologia exige.