Cheguei às duas da tarde e aproveitei tudo o que pude. Na segunda edição do Festival RioMar de Literatura, Josué Limeira e Paulo Vanderley bateram um papo sobre expressões culturais do Nordeste. O pernambucano Josué Limeira expressou sua visão de mundo em meio às gargalhadas que arrancava do público, seus cordeis declamados e sua sinceridade. “O cordel não tem dono, é uma leitura do universo. Levar a nossa origem para as gerações futuras, mesmo que esteja em um artefato diferente, é uma missão. Pedi pro “chato gpt” fazer um cordel pra mim e ele se embananou, ou seja, tem sempre que haver algo (e muito) de humano em nossas vidas e em nossas produções artísticas”, comenta o cordelista Josué Limeira.
Ao chamar o Rei do Baião de “Seu” Luiz, o Gonzaga, Paulo Vanderley, me fazia, por um momento, esquecer a intimidade de sua família com o Gonzagão, afinal, Paulo Vanderley teve a missão de filmar, ainda adolescente, o velório de Luiz Gonzaga. “Luiz Gonzaga traz experiências afetivas sensoriais para todas as gerações. É o artista brasileiro mais biografado. Gilberto Gil disse que não existiria sem Luiz Gonzaga, ou seja, muitos beberam da fonte gonzaguiana. O Rei do Baião promove até hoje encontros de avós com netos, de pai com filhos, todos unidos por uma proposta”, disse Paulo Vanderley que adianta a exposição interativa em homenagem à Gonzaga, que será lançada no próximo dia 19, também no RioMar Fortaleza.
Do lado de fora do teatro, escritores independentes, livrarias e editoras expuseram obras de escritores cearenses. Para Ana Márcia Diógenes, o sábado foi de felizes encontros. “O festival trouxe a oportunidade de que tanto nós, como autores independentes, de coletivos de autores e as editoras mostrássemos nosso trabalho. O festival já entrou no calendário da literatura”, diz a escritora Ana Márcia Diógenes.
O escritor Well Morais foi convidado a participar da feira como expositor independente. “O II Festival Riomar de Literatura se destacou pelo zelo na organização do evento. A pluralidade cultural deu alegria às atividades do dia e proporcionou muita interação entre autores, leitores, cantores, palestrantes, artistas e demais participantes. O Festival festejou a literatura e colocou o livro como foco principal das atenções, o que favorece e enaltece a literatura cearense. Como sugestão para as próximas edições, sugiro placas de destaque do festival também na praça de alimentação do shopping para convidar ainda mais pessoas a desfrutar de uma programação gratuita e bem elaborada”, aponta Well Morais, que também é membro do coletivo de literatura Independentes do Ceará.
Pedro Pacífico e Jarid Arraes receberam o carinho de dezenas de fãs e leitores que fizeram fila no foyer para ter um autógrafo nos livros Trinta segundos sem pensar no medo: Memórias de um leitor (de Pedro Pacífico) e Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis, Um buraco com meu nome, Redemoinho em dia quente e Corpo Desfeito (obras da cearense Jarid Arraes). Neta e filha de cordelistas, Jarid contou que a paixão pelos poetas veio primeiro na vida dela. Somente depois encontrou e apropriou-se de suas próprias referências. “Eu só lia homens na minha infância e adolescência, pois eu tinha acesso, à época, apenas aos livros que existiam na biblioteca do meu pai. Conceição Evaristo, por exemplo, foi a autora que mudou a minha vida e que eu penso ter conhecido muito tardiamente”, emociona-se Jarid Arraes, vencedora dos Prêmios APCA, Biblioteca Nacional e finalista do Jabuti.
Com a temática da palavra coletiva sob a ótica contemporânea, Pedro Pacífico apontou que é preciso incentivar a literatura por prazer, que vai além dos livros que somos obrigados a ler para o vestibular, por exemplo. “Eu não vim de uma família de leitores. Então, as redes sociais me ajudaram a ler mais. Eu gosto de mostrar meu conteúdo, principalmente pra quem não tem costume de ler. Existe uma soberba ainda na literatura, isso afasta e todos nós nos prejudicamos”, comenta Pedro Pacífico, advogado e escritor, responsável pelo perfil Bookster, no Instagram, hoje com mais de quinhentos mil seguidores.
Amor e honra definiram a palestra-espetáculo de João Suassuna. Ao homenagear o avô, Ariano Suassuna, o neto fez uma reverência a todos nós, nordestinos. “Muito mais do que celebrar a memória, é fundamental levar adiante essa chama. Ariano dizia e depois explicava. Vivemos em um país de dimensão continental. A beleza da língua portuguesa é o nosso maior bem cultural”, emocionou-se o neto do Mestre Suassuna. João Suassuna é o criador da página Ariano Suassuna Mestre, no Instagram (@arianosuassunamestre), que hoje tem mais de setecentos mil seguidores.
Para celebrar a cultura nordestina em cada palavra, a banda Cabaçal, dos irmãos Aniceto, se apresentou para o público com maestria. Impossível não lembrar-me do meu querido professor Gilmar de Carvalho.
Lançamentos de livros, teatro de bonecos, uma homenagem ao professor Diego Pereira e um show de Fausto Nilo também fizeram parte da programação.
Terminei meu flâneur pela segunda edição do Festival Riomar de Literatura com a seguinte reflexão: A escrita pode até ser solitária, mas a literatura é sempre coletiva.
Até a próxima!
Uma resposta
🌹Olá!
Apesar das queimadas, também em setembro, aflora a primavera com folhas de cordéis, prosas, contos, crônicas, poesias e um mundo da arte literária.
Como é bom saber que existe uma jornalista Mirelle Costa que aponta a utopia como um horizonte que temos que caminhar e caminhar sempre, como a escrita que busca nas letras, as palavras, as frases, os textos, os livros, e acima de tudo, a amizade com as pessoas.
Uma pessoa que lê e escreve, cria um laço de amizade com a fantasia e a realidade.
Sem me alongar, tirei esse tempinho para apreciar a arte de escrever sobre essas boas notícias de amigas e amigos. Sobre mim? Ao curioso/sa, se leu até aqui, descobriu meus poemas que indico no Blog:
jonaslivros.blogspot.com
Grato. 🫂