“O Airton insistia em orientar a paciente, que queria lhe dizer algo e não conseguia”, aponta o arquiteto e escritor Totonho Laprovitera. Confira:
O almoço de domingo no apartamento de Carlos Augusto e Laéria é sempre perfeito! Lá, come-se bem, bebe-se também, e a conversa, inteligentemente amena, rola farta na arte do bem-receber do casal.
Uma vez, fomos convidados para nos deliciarmos com um peixe que a dona da casa havia preparado. Eu e Elusa fomos os primeiros a chegar, depois o Levy, e, por fim, o saudoso Airton. Estava formado o time, e logo começou o jogo com uma linha doida, ao som de música medieval. Assuntávamos fatos, acontecimentos e ideias, quando o telefone da casa tocou. Para surpresa de todos, era para o Airton – psiquiatra, a toda hora de plantão. Uma paciente se agoniava do outro lado da linha, e ele a orientava: “O quê? Você tá na janela?! Saia imediatamente da janela, tá me ouvindo? Saia imediatamente da janela! Cadê seu marido? O quê? Você tá só em casa?! Saia imediatamente da janela!”
Todos ficamos apreensivos com o acontecimento, e ele continuava: “Você tá tomando os remédios conforme eu receitei? Sei, sei… Se acalme, se acalme… Não, não tem mais o quê, não! Não, não, agora, saia imediatamente da janela! Vá pra bem longe dela!”
O Airton insistia em orientar a paciente, que queria lhe dizer algo e não conseguia. Até que, enfim, resolveu ouvi-la: “Sim, minha filha, pode dizer. Diga… Como é que é?! Não acredito… Quer dizer que você mora numa casa que nem sobrado tem?! Ô, alívio… Olhe, pode ficar na janela, viu? E assim que seu marido chegar, vá passear de carro…”
Totonho Laprovitera é arquiteto, escritor e artista plástico