Com o título “Pe Zé – A última viagem”, eis artigo de Macário Batista, jornalista e colunista do jornal O Estado. Ele presta uma homenagem ao amigo, o ex-deputado federal Padre Zé Linhares.
Confira:
Subimos a Serra da Meruoca com a tralha toda; câmeras, luzes, rebatedores, folhas de isopor, cinegrafista, auxiliar, maquiadora e um diretor. Fomos gravar o programa de televisão do PP, então sob a presidência cearense do deputado federal Padre José Linhares Ponte.
A luz era ótima naquela manhã. Enquanto era tirado o brilho do rosto e do pouco cabelo do deputado, o diretor conversava pra descontrair o deputado, depois de discutir o tema de sua participação. E naquele ar da mais pura camaradagem e umas cinco décadas de amizade, o diretor arriscou
– O senhor sabia, Padre Zé? Televisão jamais existiria se não houvesse isopor, fita gomada e uma munheca quebrada.
Espirituoso, o Padre olhou para o auxiliar, o Nenem, e bateu;
– Nenem, você é isopor ou fita gomada?
Outra vez, em Firenzi, presidindo a Conferência Internacional das Misericórdias – era presidente mundial da entiddade, pela segundal vez, impressionou tanto o Cardeal Italiano que estava lá que foi aberta para os participantes do encontro uma porta, que só é aberta a cada 20 anos. O Cardeal antecipou.
Em uma das visitas à construção do Hospital do Coração, em Sobral (Zona Norte), ao chegar cedo da manhã, comecinho dos trabalhos, uns 40 operários pararam para prestar reverência à sua presença semanal. Padre Zé vinha de Brasilia, ao longo de seus oito mandatos consecutivos, entrava no carro, no aeroporto em Fortaleza, e, duas horas e pouco, já estava fazendo vistorias em obras.
Num buraco feio de estrada, visitando eleitores na Zona Norte, o solavanco do carro fê-lo bater a cabeça na lataria. Passou uns dias, sentiu dores, tonturas, conversas desconectadas. Os médicos resolveram que iriam leva-lo para abrir a cabeça e drenar um hematoma que comprimia o cérebro.
Ao ouvi-los apenas questionou:
– Vocês estudaram tanto, foram mandados ao Exterior, fizeram especialização… por que não me operar aqui, em Sobral?
E assim foi feito. Um mês depois fui à primeira visita de fora do circulo mais restrito ao padre e houve o ensaio da retomada dos uisquinhos de outrora.
E contaria uma vida inteira de lutas e desafios de sua biografia, de sua história de vida que escrevi.
Ontem, 8, às 19h45, depois de uma queda no banheiro de casa, em Fortaleza, cinco dias hospitalizado, UTI, Padre Zé morreu, aos 94 anos.
O Ceará perde um benfeitor.
Sobral perde seu filho mais dedicado.
Nós perdemos um educador.
Eu perco um amigo.
*Macário Batista,
Jornalista e colunista do jornal O Estado.