Com o título “Por um novo Ccontrato das cidades”, eis artigo de Cãndido Henrique de Aguiar Bezerra, diretor da Federação Nacional das Associações dos Profissionais Geógrafos (FENAGEO). “(…) termino essa reflexão me dirigindo aos milhares de prefeitos e vereadores deste país que estão iniciando um novo contrato social legitimado pelas urnas do ano passado, se ponham no lugar do governados na hora de definir e gerenciar as políticas públicas de seus municípios”, expõe o articulista.
Confira:
Uma das mais revolucionárias criações da humanidade foram as cidades, em um espaço compartilhado. Pessoas se agrupam para se beneficiar através de serviços coletivos que, de forma isolada, seriam bem mais difíceis, senão impossíveis de serem obtidos. Essa criação, ou invenção, impulsionou o primeiro grande crescimento não apenas demográfico, mas, também, tecnológico de nossa humanidade. Porém, trouxe outros desafios que, até hoje, estão presentes em nossa sociedade. A vida isolada possui suas limitações naturais e possibilita ao indivíduo criar suas próprias regras para viver não dependendo de autorização ou permissão de mais ninguém, Thomas Hobbes chamou essa condição de liberdade natural. No entanto, na medida que nos agrupamos em espaços coletivos, faz-se necessário que haja um entendimento comum que, em muitos casos, não estão totalmente compatíveis com nossos interesses pessoais. Desta forma, precisamos ceder ou, como diz Hobbes em sua obra que trata do contrato social, perder a liberdade natural em troca dos benefícios coletivos como segurança e
condições sociais melhores.
Estamos iniciando nos municípios do Brasil uma nova gestão, com equipes e prefeitos iniciando seu primeiro ano de governo. Segundo dados do último censo, 87,4% da população brasileira vive em áreas urbanas de nosso país, demonstrando que as políticas públicas devem ser concentradas nas cidades, enxergando os desafios existentes para que as necessidades sociais dos citadinos sejam atendidas, garantindo que a perda da liberdade natural citada no contrato social de Hobbes seja equilibrada e os governos sejam mantidos com a legitimidade popular que hoje chamamos de processo democrático, pelo menos em tese. Infelizmente, temos observado em diversas cidades que esse equilíbrio ou troca contratual descrita por Hobbes tem sofrido uma distorção em razão da corrupção em todos os níveis e de todas as formas possíveis. Para compensar uma péssima gestão que não possibilitou aos seus governados as condições sociais mínimas dos ganhos coletivos de se viver nas cidades, o governante, pela da condição social fragilizada dos seus governados, compra sua liberdade de escolha para proporcionar assim manutenção de seu governo por mais tempo e, com isso, quebramos o contrato social que garantia ser mais benéfico viver dentro das cidades que de forma isolada, como no início da caminhada humana nesse planeta.
Como tudo nesse mundo, até mesmo a corrupção possui suas limitações e passa a não ser mais “eficaz” ao seu propósito e, após um certo momento, quando o seu custo de existência se torna tão oneroso que passa a não ser mais viável a sua razão final e apesar de parecer algo muito difícil de ocorrer, não estamos assim tão distantes desse momento. Os sinais estão cada vez mais nítidos, como a crescente falta de credibilidade do povo nas instituições públicas e seus respectivos representantes, assim como a busca dos indivíduos por atividades cada vez mais desatreladas da formalidade da lei e, até mesmo do guarda-chuva da CLT, que garantia benefícios sociais que inclusive hoje estão sendo debatidos pelos legisladores de nosso país.
Portanto, termino essa reflexão me dirigindo aos milhares de prefeitos e vereadores deste país que estão iniciando um novo contrato social legitimado pelas urnas do ano passado: ponham-se no lugar dos governados na hora de definir e gerenciar as políticas públicas de seus municípios para que a invenção das cidades continue sendo um dos maiores benefícios para a existência harmônica e próspera de nossa civilização.
*Cândido Henrique de Aguiar Bezerra
Diretor da Federação Nacional das Associações dos Profissionais Geógrafos (FENAGEO).
Ver comentários (10)
O autor do artigo é um monarquista. Ocupou cargo comissionado no desgoverno Bolsonaro. Qual a relevância dele, amigo Eliomar?
Ad hominem. Falácia lógica comum demais: atacar o autor e não o conteúdo do que está dito.
Acho correto que o Eliomar escolha o conteúdo a publicar com base na qualidade do artigo e não nas preferências pessoais do autor.
Muito boa a reflexão do Cândido.
Blog do Eliomar - informação sem Preconceito
Caro, Cleiton! Qdo vc deixar de olhar o artigo somente pelo viés político e passar a examinar como um cidadão apenas, verá a relevância do conteúdo deste artigo.
Eu sou antimonarquista e fiz oposição ao governo Bolsonaro por conta de meus princípios, mas isso pouco importa. Que reflexão interessante vemos no texto! Não é conteúdo trivial ou lugar-comum que habitualmente se repete em outros meios. É nova pra mim a idéia de que possa haver um limite para a corrupção. E é curioso pensar até que ponto esse fenômeno possa influenciar os rumos que nossa sociedade maniqueísta vem tomando.
Caro Cleiton, o consenso não é o status de normalidade de uma democracia saudável, mas a convivência respeitosa e harmônica dentro dos dissensos existêntes, sim. Dessa forma, a intolerância com opiniões divergentes sem nenhuma reflexão sobre a essência do conteúdo, mas apenas por intransigência ao que o próximo pensa, é uma atitude que enfraquece a democracia e a convivência harmônica dentro de uma sociedade.
Rememorando o artigo do Cândido, quando cita o contratualista Thomas Hobbes, e traz a liberdade e a segurança como forças inversamente proporcionais, percebe-se uma linha tênue onde quando temos uma democracia mais frouxa nas liberdades individuais corre-se o risco de uma sociedade anárquica, porém, se pesar a mão na segurança, pode-se existir um autoritarismo exacerbado. Notadamente, viver demcraticamente dentro da complexidade que as cidades estão constituídas hoje em dia, de fato é algo complicadíssimo, porém, não se existe nenhuma outra forma de convivência em sociedade mais exitosa que a sociedade pensada pelos pensadores contratulistas. Inclusive, nos artigos inciais de nossa Constuição Federal, destaca-se que "o poder emana do povo", sendo este um pensamento advindo de Jean-Jacques Rousseau, quando publicou O Contrato Social. Hoje, esse poder se enfraquece mais, pois o povo insiste em vendê-lo para políticos corruptos.
Parabens, Cândido, pela reflexão. E Cleiton, amplie sua visão,amigo!
Abordagem oportuna e necessária. As colocações consignadas no artigo, além de se constituírem numa contribuição aos gestores, dá a exata dimensão da importância das cidades na vida das pessoas.
O artigo reveste-se de importância pela relevância de seu conteúdo. A reflexão sobre a garantia constitucional dos direitos sociais, voltados para o bem estar comum, ao meu ver, s.m.j., extrapola limites ideológicos e se agiganta pelo conteúdo, em si, trazido à baila.
Excelente reflexão!
Texto Magnífico! Ideias bem conectadas. Parabéns ao autor!
Pense num comentário idiota o desse rapaz assinado Cleiton. Imoral, de fato, é defender e votar em chefe da organização criminosa que retornou ao local do crime. O artigo do Dr. Cândido Henrique é tão pertinente que incomodou um esquerdista. Todavia, paradoxalmente, ele só se arrimou no fato do articulista ser monarquista. Porque não creio que ele tenha entendido o argumento do autor. Lulocomunopetista, bem ao contrário de monarquista, não tem miolo saudável na cabeça.