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“Só as mães são felizes”

Ainda que não mais seja
Tuty Osório é jornalista e escritora

“Sem pieguice, nem retórica, nunca senti intimidade igual à que tive com as minhas filhas, desde o primeiro momento em que as vi”, aponta a jornalista e publicitária Tuty Osório

Confira:

Não se ofendam pais. Não pretendo nem considero justo desqualificar vosso esforço, vossa dedicação. Só que, de verdade, como escreveu Mário de Andrade, existirem mães é um caso sério. Como já escrevi, eu, aqui e acolá, adorei ser mãe. Adoro, aliás. Fico passada com um discurso atual de que a maternidade tem estranhamento. As mães que se declaram longe de seus bebês, ao nascerem, porque seriam desconhecidos.

Enfim. Sem pieguice, nem retórica, nunca senti intimidade igual à que tive com as minhas filhas, desde o primeiro momento em que as vi. Sinto essa intimidade maior até hoje. Posso discordar delas, reprovar comportamentos e escolhas, magoar-me, sem jamais me sentir distante. Estou consciente de que existem mães narcisistas, niilistas, parasitas, até. Não sou alecrim dourado, sequer lírio perfeito. Porém, sinto-me muito à vontade para me alegrar, sem demérito de ninguém.

A maternidade é mais que uma condição biológica. É um estar, uma alma que se traduz num corpo pretensamente incansável que se exaure em jornadas insanas, nada heroicas, tudo terrenas, telúricas, palpáveis. Ser mãe pode ser para qualquer pessoa que o deseje e que não tema o peso do rótulo. Rótulo já nascido discriminado, por taxação de santidade e de diabólica missão. É o sim dito ao não. Para sempre nutrido e afogado no mesmo vale de lágrimas.

Tenho notícias de amigas sofrendo pelo sofrimento das filhas que não têm o poder de aplacar. Mais uma vez Mário de Andrade me traz a dona com a cara raivosa do filho entre os seios e que permanece virgem – o que quer que signifique sê-lo. O filho também. As minhas estão em casa, seguras e bem. Não as atingiram, por hoje, a guerra, os vampiros, o medo.

O amigo me disse, dia desses, que se viaja sem sair de casa. Desta vez eu viajei assim, e não foi pra pertinho, não… Voo doido. O pedaço que me cabe do paraíso.

Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS. Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.

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