Com o título “Trivialidades coletivas”, eis a crônica de Cynthia Rabelo, pegagoa com especialização em contação de histórias. Confira:
Em minhas andanças, apurando olhar e audição, muitas vezes capto histórias e situações interessantes e, até engraçadas.
Nesse momento, é importante esclarecer ao leitor que aprecio conhecer lugares andando de transporte público, claro que fora do horário de pico.
O relato que farei, aconteceu num dia que passeava de coletivo, por certa capital nordestina.
Já me encontrava dentro do coletivo, quando entram duas mulheres jovens, e sentam na cadeira à minha frente e começam um diálogo:
_ Então, fui lá e tirei satisfação mesmo, quem ela pensa que eu sou? Vivia dizendo que era minha amiga, mas foi só eu dar as costas pra ela me apunhalar.
_ Mas o que foi mesmo que aconteceu?
_ Mulher, na sexta-feira eu fui com Roberto pra festa da firma. Quando chegamos lá, ela já estava. Na mesa dela estava toda a família; o pai dela, a mãe, o irmão, até o menino dela. Ela já veio encontrar com a gente, sorrindo, perguntando se não queríamos sentar com eles. Claro que não aceitei, aí o Roberto pegou uma mesa bem pertinho da dela. Fiquei só observando, mas sentei.
_ Amiga, isso não quer dizer nada, é normal que ela chamasse vocês, eles são colegas, e ela te conhece.
_ Há, mas tinha alguma coisa me dizendo pra eu ficar esperta, e nem demorou pra eu perceber que eles se olhavam… até que ele chamou ela pra dançar. Mulher, eles não dançaram só uma música, não. Foram três forrós seguidos, e eu, com cara de tacho.
Quando cheguei em casa, que ele entrou no banho, peguei o celular dele. Menina, tinha até umas “poesias” que ele fez pra ela. Fingi que não sabia de nadinha, mas no outro dia, fui bater no galinheiro dela. Eu fui, se ela não me conhecesse, nem tinha ligado, mas a bicha é sem vergonha. Fui lá e disse umas verdades.
_ E o que tu disseste?
_ Oxi, que eles podiam ficar juntos, vou lá querer uma peste daquela comigo. Ela que faça bom proveito.
Nessa hora, caro leitor, precisei descer do coletivo, infelizmente não pude ouvir o final da história, mas está aí um ótimo exercício para a imaginação.
Sinto muito, mas, assim como eu, cada um terá que pensar um final.
*Cynthia Rabelo,
Pedagoga com especialização em contação de histórias, atualmente moradno em São Luís do Maranhão.
Respostas de 7
Simples, leve, engraçado e questionador. Perfeito para a manhã de sábado
Muito boa a crônica, me faz lembrar os diálogos que escuto dentro do busão.
Essa é uma boa história que muito acontece no dia a dia das pessoas
Infelizmente elas sempre acabam na justiça ou em assassinato. Assim eu penso. Parabéns Cynthia.
Você é muito observadora e tem extrema facilidade em redigir intrigantes histórias
Ahhhh
Uma história de final feliz
🧡🔥
Uma bela crônica!
ótima crônica!!
Adorei o tom jocoso e nordestino. Nota 10❣️👀