“Pouco importa a Trump que esse globalismo provisório entre em ruptura, armando a dissolução de agências internacionais reguladoras”, aponta o cientista político e escritor Paulo Elpídio de Menezes Neto
Confira:
Não dá para crer honestamente que as avaliações antecipadas das decisões de Trump não tenham sido compreendidas pelos seus críticos mais veementes.
O que está posto não é uma plataforma ou um projeto econômico estratégico para a quebra das potências socialistas. Dos contornos econômicos e financeiros mais visíveis dá, entretanto, para perceber a parte visível do “iceberg”.
Há um movimento, apenas perceptível, de uma complexa operação geopolítica.
A grande nação, pressentindo os riscos de um processo de globalização ameaçador, em relação ao poderio americano, decidiu reverter acordos e concessões que abriram, em pouco mais de um século, uma enorme brecha de incertezas na fortaleza do capitalismo.
A ação de Trump não caracteriza um ataque frontal aos “sócios” deste “brave new word” construído em cumplicidade prudente pelo Ocidente. O que a define é uma estratégia realista — sob o manto de uma “real politik” revisionista — para a recuperação das forças essenciais perdidas com a transfiguração socialista em um nicho de oligarcas de inclinações capitalistas.
Em outras palavras, Trump é o anti-Gramsci armado de táticas aparentemente arcaicas e antiquadas com as quais pretende reverter o placard neste segundo tempo do jogo, reconhecidamente um “mata-mata” extremamente perigoso.
O globalismo é a ameaça maior, a que uniu nações e países decididos a conviver e a compartilhar os frutos da riqueza do mundo. Pouco importa a Trump que esse globalismo provisório entre em ruptura, armando a dissolução de agências internacionais reguladoras. É precisamente o que defende e do que precisa para viabilizar a senha sedutora da “America First”.
Por que haveriam estes novos “falcões” de ceder às alianças comerciais e militares que ameaçam a dominação “yankee”?
As quotas para importação e regulação de exportações nada mais são do que um propósito de restauração do poderio americano diante do crescimento das nações concorrentes no plano comercial e econômico e das alianças de defesa militar.
Sim, é isso mesmo: Trump fez-se cavaleiro de uma nova Cruzada. Não lhe interessa apoderar-se do Santo Graal, mas liquidar os foros [focos ?]
Ideológicos espalhados pelo planeta inteiro — instrumentos operantes da desconstrução dos valores ocidentais.
A criação pelo BRICS de uma moeda como substituta do dólar nas trocas e nos negócios internacionais não segue em busca do mesmo objetivo Gramsciano ?
E então?
Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC