O que você faria se o seu pai desse uma filmadora a você, quando criança, para registrar o enterro de Luiz Gonzaga? Esse registro afetivo foi uma mola propulsora para Paulo Vanderley montar um livro que virou exposição no Shopping RioMar Fortaleza (@riomarfortaleza). “Luiz Gonzaga: 110 Anos do Nascimento” está desbloqueando a memória de muita gente. Trata-se de uma imersão que celebra o legado do icônico artista, através do olhar do paraibano Paulo Vanderley, devoto de Gonzaga.
Um livro de pé
O acervo conta com mais de cem itens que traçam a trajetória de Luiz Gonzaga, a partir do livro homônimo que inspira a mostra, com destaque para vídeos raros, fotografias históricas, documentos reveladores, objetos pessoais e, claro, um exemplar da obra “Luiz Gonzaga: 110 Anos do Nascimento”, objeto de desejo de todos que visitam a exposição e ainda não tem em casa essa obra de arte cheia de nordestinidade, afinal, são quatro quilos de material que eternizam o Rei do Baião.
O artista brasileiro mais biografado é nosso!
A mostra acontece no shopping RioMar, na Praça do Mandacaru. “O projeto nasceu de um sonho. É um mergulho na vida íntima do Rei do Baião e também na carreira do artista que redefiniu a música nordestina. Meu pai teve uma relação de amizade muito forte com Luiz Gonzaga. Ele chegou a comprar um carro do Seu Gonzaga. Tenho fotos e muitas boas lembranças com minha família e o Rei do Baião. A exposição é toda baseada no livro que conta a história de Gonzagão por ele mesmo. Foram transcritas centenas de entrevistas com Seu Luiz, já que Luiz Gonzaga é o artista brasileiro mais biografado do Brasil. Montei toda essa cronologia, contextualizei as histórias, extrai matérias de revistas com o Rei do Baião e ainda trouxe a filmadora com a qual filmei o sepultamento de Seu Luiz, além da réplica da roupa vestida por Gonzaga na visita do Papa João Paulo II”, explica Paulo Vanderley, organizador da exposição e autor do livro.
Cafezim com Luiz Gonzaga
Nem eu sabia que O Rei do Baião havia tomado café com minha mãe e “Tia Lúcia”, irmã afetiva de minha mãe. “Morávamos, nessa época, em Cedro. Luiz Gonzaga voltava de Várzea Alegre com destino a Iguatu e o carro dele (pra nossa sorte) quebrou no meio do caminho, no caso, quase em nossa porta. O mecânico, muito gentilmente, falou a Seu Luiz que havia uma conterrânea dele que morava bem ali e ele, na mesma hora, foi bater lá. Ouvimos o grito Ô de Casa! E respondemos: Ô de Fora! Ficamos mudas ao ver o Rei do Baião bem na nossa frente e ele aproveitou aquele silêncio para pedir um café e esbanjou tanta simpatia que ganhou até um cuscuz como acompanhamento. Ele pegou logo a sanfona no carro e fez um show exclusivo pra gente cantando Assum Preto, Luiz Respeita Januário e Asa Branca. Infelizmente o mecânico era bom e o carro foi consertado logo (risos). Já quando morávamos no Crato, eu e sua mãe mentimos uma vez pra nossa tia madrinha, que era freira, ao dizer que iríamos à missa, quando, na verdade, em vez da novena, fomos para o show de Luiz Gonzaga. Não passamos nem na porta da igreja. Que Deus e Nossa Senhora nos perdoe (risos)”, conta Lúcia Cavalcante, às gargalhadas de quem soube ter uma infância leve, feliz e com um pouco de rebeldia.
Há oito meses, eu vivo um luto em vida. Minha mãe teve um AVC grave no início do ano e ficou em estado vegetativo. De vez em quando, coloco Luiz Gonzaga para ela escutar.
Obrigada, Tia Lúcia, por proporcionar à minha mãe momentos incríveis em sua companhia. Como não consigo mais levá-la para conferir a exposição, consegui um jeito de tê-la comigo por seu intermédio e, principalmente, por suas histórias.
Ler, ouvir, tirar fotos e emocionar-se. A exposição é um encontro, com nossas raízes e com o que somos, por nós e pelos nossos também.
Viva o Rei do Baião!
Respostas de 2
Que gostoso conhecer esse “causo” da vida da Dona Vera! Um dia que ficou para a história! Já quero conhecer a exposição também!
Maravilha…..
Tive o Prazer de conhecer Luiz Gonzaga na oficina do meu Pai Aurilio Barreto no Crato na rua Pedro II meu pai consertava parte elétrica de carro e Luiz Gonzaga sempre ia na oficina…. Certo dia ele foi na oficina com o Patativa…