“Não teve ninguém que tivesse pregado mais a igualdade que Cristo”, aponta a jornalista e publicitária Tuty Osório.
Confira:
Criança e adolescente estudei em colégio religioso. Capela, freiras, primeira comunhão, crisma, missas de encontros, despedidas, celebrações. Era o tempo da Teologia da Libertação, das Comunidades Eclesiais de Base, da Conferência de Puebla, Leonardo Boff, Dom Aluísio Lorscheider, que quase foi Papa. Tempo do Papa que morreu, do segundo Papa que morreu e do Papa que veio em seguida mudando tudo. O Papa conservador.
Ainda viajo com o terço na bolsa, tenho fé em Nossa Senhora, creio com dogmas e dúvidas. Contudo, tenho desgosto dessa igreja que exclui, não acolhe, discrimina. Reclamo, cobro, reivindico sempre que tenho acesso a uma ponte para a cúpula que nem sequer deveria existir. Não teve ninguém que tivesse pregado mais a igualdade que Cristo, no modelo que eu conheço. Por vezes vejo padres falando em hierarquia e faço de conta, como faço para tanta gente e para tantas coisas. Sem ficcionar, fabular, viajar, enfim, não tem como segurar a onda.
No Colégio a aclamação à rainha da paz era com Maria, Maria, do Milton. Alunas e alunos formavam o conjunto musical, com violões, baterias, pandeiros e tamborins. As aulas de religião eram facultativas e nelas debatíamos o feminismo da mãe de Jesus, a pobreza, o abandono, a discriminação. Havia uma preocupação em conscientizar, em cuidar do que não sabíamos que era, – porém era -, politizar.
Muitos anos passaram e fiquei emocionada diante de Ariano Suassuna conclamando à nossa herança mariana. Visibilizando o lado feminino do catolicismo que nos formou, é nossa cultura, nossa história. O Auto da Compadecida é essa elegia, esse resgate. Falava e escrevia com o coração. A saga sertaneja está na segunda edição, tem versões em cinema, TV, vídeo, além do livro primeiro.
Não é só na igreja católica que está confuso, hoje. A ânsia em imitar outras práticas a tem afastado de seus primórdios. Do cristianismo primitivo que é muito parecido com o comunismo na concepção de coletivo. Credos de outras matizes estão traindo suas origens. A agitação e a propaganda vêm dando lugar a publicidade e vendas de imagem, ao que nomeiam de narrativas, a seguidores do vazio.
Não sei para onde vou. Não sei para onde vou. Sei que não vou por aí.
Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS
Uma resposta
EU TAMBÉM TENHO FÉ, MAS NÃO TENHO TERÇO. EU TENHO MEDO DOS SIGNIFICADOS DA FÉ. EU TENHO FÉ NA NATUREZA, NÃO TENHO FÉ NO SER QUE MATA PRA NÃO COMER, O HOMEM PRECISA SE REINVENTAR, ESTAMOS PERDIDOS NUM MAR SEM TERRA, NÃO SABEMOS NADA E FAZEMOS PARECER QUE SABEMOS DE TUDO, É TRISTE, A EXISTÊNCIA ESTÁ POR UM FIO!