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“Uma oposição sem projeto” – Por Cleyton Monte

Cleyton Monte, presidente do Centec, mostra serviço. Foto: Divulgação

Com o título “Uma oposição sem projeto”, eis artigo de Cleyton Monte, cientista político, professor universitário, pesquisador e presidente do Instituto Centec. “Em política, a crítica é legítima — e necessária. Mas quando a oposição aspira se tornar governo, ela precisa oferecer mais do que discordâncias: precisa apresentar caminhos, ideias e compromissos”, expõe o articulista.

Confira:

A tentativa de unificação da oposição no Ceará, reunindo figuras como Ciro Gomes, Roberto Cláudio e lideranças bolsonaristas, lança luz sobre um fenômeno político que exige análise cuidadosa: a construção de uma aliança entre grupos com visões historicamente antagônicas. O que, à primeira vista, pode parecer um movimento tático em nome da competitividade eleitoral, revela, na prática, um campo repleto de contradições — não apenas ideológicas, mas programáticas. Ciristas e bolsonaristas sempre ocuparam lugares opostos no debate público.

Ciro Gomes construiu sua imagem política como formulador de um projeto nacional desenvolvimentista, defensor do Estado como indutor do crescimento e das políticas públicas como ferramentas de transformação social. Já o bolsonarismo é marcado justamente pela negação dessas premissas: nega a centralidade do Estado, deslegitima o conhecimento científico e aposta no enfraquecimento das instituições públicas em favor de uma lógica autoritária e ultraliberal.

Enquanto o cirismo valoriza a pesquisa na formulação de políticas públicas — posição que se refletiu nas ações de enfrentamento à pandemia na gestão de Roberto Cláudio —, o bolsonarismo é sinônimo de negacionismo. Também há um abismo em relação à diversidade. O discurso bolsonarista ataca de forma sistemática os direitos de minorias, alimenta a intolerância religiosa e ridiculariza políticas de inclusão. Já os ciristas, ao menos formalmente, sempre dialogaram com uma agenda
comprometida com a ampliação de direitos.

Essas diferenças não são meramente retóricas. Elas têm impacto direto na formulação e execução das políticas públicas. São visões de mundo, de Estado e de sociedade profundamente distintas — e muitas vezes inconciliáveis. Nesse contexto, a pergunta que se impõe é inevitável: o que sustenta essa aliança? A resposta parece girar em torno de um antipetismo difuso e de uma rejeição política ao grupo que hoje governa o Ceará. Mas a negação, por si só, não é um projeto. A política que se organiza apenas pelo ressentimento corre o risco de virar ruído — e não alternativa.

A volta de Ciro Gomes ao debate estadual poderia representar uma oportunidade para renovar o debate sobre o futuro do Ceará. No entanto, o que se observa é um movimento de regressão: um alinhamento a setores que negam tudo aquilo que ele próprio defendeu durante décadas. Aquele que dizia carregar um “projeto de Brasil” agora parece embarcar em um palanque que não sabe dizer que projeto tem para o estado. Em política, a crítica é legítima — e necessária. Mas quando a oposição aspira se tornar governo, ela precisa oferecer mais do que discordâncias: precisa apresentar caminhos, ideias e compromissos.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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