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“Você tem medo de quê?”

Tuty Osório é jornalista e escritora

“Além de lamentar, mais uma vez, a perda das maravilhosas livrarias que havia nos aeroportos, fico irritada com esse papo de matar a família”, aponta a jornalista e publicitária Tuty Osório. Confira:

Subindo a escada rolante que leva ao embarque, esbarro o canto do olho numa capa rosa, exposta na vitrine do stand de livros do térreo: Como matei minha família querida. O medo é realmente o afeto que domina.

O plano era neutraliza-lo, após as lutas libertárias dos anos 60, do XX.

Além de lamentar, mais uma vez, a perda das maravilhosas livrarias que havia nos aeroportos, fico irritada com esse papo de matar a família.

Primeiro o chororô nostálgico das livrarias.

Quem nunca se alegrou com compras extravagantes, ou modestas, dos últimos lançamentos da LA SELVA, uma das que foi exclusiva dos terminais aeroviários? Como havia poucas livrarias no Ceará, a LA SELVA trazia o último grito, os jornais do Rio e de São Paulo, até o New York Times andava por lá.

Hoje temos menos livrarias, ainda. Nos aeroportos e fora deles. As de rua, de bairro, multiplicam-se em algumas cidades pelo mundo. Não sabemos que fôlego terão…

No Brasil, as La Selva da vida deram lugar a uns quiosques horrorosos que vendem uma auto ajuda rasteira. Não é preconceito, não. É conceito, mesmo, e bem analisado. Se é pra difundir máximas que auxiliam na felicidade que seja com estilo.

Enfim, conversa para muitas crônicas.

Voltando à família. Gente, não é necessário matar ninguém! Já basta quando as pessoas queridas morrem de verdade e a gente morre um pouco junto, de saudades.

Mata pai, mata mãe, mata amarras, família tóxica, manipuladora, e por aí vai… Não, isso é preguiça e fuga do essencial. Não matemos, vivamos, ressuscitemos.

Também não é o caso de idolatrar, repetir alucinadamente que a família, como elo e estrutura, tem que ser resgatada! E o que ela quer sequestrada? Não vamos complicar. O bom é amar desmesuradamente, apoiar, acolher. Seja como for. Família é isso. Com sangue ou sem.

A gente acredita que amadureceu, a cabeça cheia de teoria. Daí, deslumbrada com a chegada dos novos seres da famigerada família, derrete-se a cada mesaniversário. Sabe porquê? Porque é bom demais a alegria do preparo da mini festa, a decoração, os docinhos! O mesaniversariante de colo em colo. Fotos e mais fotos. Beijinhos, sorrisos, falinhas tatibitates.

A gratificante sensação de que todo os meses é pouco. Devíamos celebrar todos os dias a existência dessas criaturinhas.

É preciso amar as pessoas como se todos os dias fossem sexta feira. Essa é a mais potente filosofia. E, por favor, vá ao cinema sem precisar matar a família. (*Matou a família e foi ao cinema, filme de Júlio Bressane, 1969)

Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS

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