“Fomos, como soldados, forjados pela argúcia dos Estados-maiores e pela admiração colhida na sociedade, ainda que nos dominasse m a ideia de sermos um exército de origens plantadas no povo”, aponta o cientista político Paulo Elpídio de Menezes Neto. Confira:
Como os exércitos nascem, vivem, ampliam, ampliam as suas conquistas — e morrem.
Parece um ciclo prolongado, tomado de fraturas, de vitórias e derrotas.
Outrora, não havia alistamento, homens e jovem válidos eram recolhidos nas ruas, nas suas casa e nas vendas.
Os marujos das embarcações de guerra e de cabotagem, eram recolhidos nas pensões e bares dos portos — e levados a ferro para os ourões das belonaves…
Trotsky formou e tornou aguerrido o exército vermelho com a adesão dos ativistas e de camponeses recalcitrantes.
Napoleão perdeu dois terços dos seus exércitos invencíveis no cerco de Moscou e de São Petersburgo.
Negros, índios, pobres e escravos foram arrebanhados e mandados ao encontro das tropas de Lopez — descalças, encontraram-se nas divisões de segunda classe, prontas para o sacrifício patriótico. Transformaram-se em heróis na retirada da Laguna.
Mas nem sempre foi assim. A formação profissional de soldados já vinha de tempos distantes, a história tem sob a sua guarda e custódia estes registros, vêm de Esparta e Roma e dos bárbaros
subindo Ocidente acima na missão de destruir impérios e orgulhosas civilizações.
As escolas militares foram o apanágio do emolduramente de grandes chefes de exércitos e esquadras. Mercenários, a exemplo de Cochrane e oficiais de honrada estirpe da nobreza fizeram figura vistosa, transformaram-se em Wellington, Patton, Napoleão, Rommel e Lott, “soldados absolutos” de um novo mundo e das novas fronteiras plantadas com a sua astúcia. Deles, não se apontaria a ambição de atravessar o Rubicão. De alguns, sim…
A Wermarcht foi dissolvida para renascer à sombra da OTAN…
Os partidos, conhecidos como tropas de assalto das democracias, construíram realidades provisórias e improváveis de fantasias compartilhadas pelos “condottieri” das armas e da desrazão.
O exército chileno nasceu e cresceu sob disciplina teutônica da influência da cultura militar germânica — foi ele matriz e molde de muitas ditaduras.
No Brasil, tivemos os nossos exércitos da borracha, mas também uma força expedicionária que honrou as nossas aspirações democrática de liberdade. Elegemos Napoleão e os seus marechais-de-campo como exemplo da estratégia e da fortaleza das suas táticas. Fizemo-nos no cadinho da experiência francesa nos campos de conquista e de defesa. Fomos, como soldados, forjados pela argúcia dos Estados-maiores e pela admiração colhida na sociedade, ainda que nos dominasse m a ideia de sermos um exército de origens plantadas no povo.
Golpes, revoluções de bolso e de gabinetes não foram poucas. À falta de inimigos externos com vontade de guerrear, enfrentávamos os nosos próprios inimigos internamente. Dizem os psicólogos que os inimigos “internos” são mais perigosos finque o “externos”. Na vida das na les, também.
O exército francês e a polícia, na vigência do Estado de Vichy, tornaram-se gendarmerias, guardas de fronteiras e agentes policiais, alguns, secretos…
Com o desenvolvimento da guerra virtual , com a ajuda de aplicativos eficientes e da inteligência artificial, os exércitos serão formados por hackers.
As batalhas travam-se, agora, pelos computadores, nas escolas e nas universidades, os políticos perderam a sua função originária e a legitimidade dos atos de governabilidade dá-se pelo silêncio do que se chamou um dia de “cidadãos”. A fé não consegue explicar o que antes lhe servia de controle sobre as dóceis e ingênuas criaturas crédulas. Marx tentou explicar o que se passava e como sair daquela situação: bolou astúcias requintadas de dialética e os seus herdeiros preparam-se para o desfecho do golpe final…
Já não há mais campos de batalha e trincheiras. Tudo se transformou em metáfora, por força de uma revolução semântica incontrolável que nem Gramsci e Paulo Freyre foram capazes de antecipar…
Predominam sobre a força das armas, a inteligência jurídica, a semântica dos tropos e a ciência do direito. A feitura ou a reconstrução da realidade, as versões que lhe podem ser dadas, sobrepõem-se à verdade e à mentira, como razões de Estado.
Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC