“Alguns podem não dominar a gramática, escrever uma tese de doutoramento ou não saber colocar as metáforas e metonímias no poema, mas podem, com sua inteligência, fazer algo que ninguém é capaz”, aponta o médico e escritor Sávio Pinheiro
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Cumpro o dever cívico e estatutário de propalar algumas palavras à população de Cedro, em nome da Academia Cedrense de Letras, no que concerne às atividades intelectuais, principalmente aos estudantes e aos professores das mais diversas áreas. Não me restrinjo apenas aos alunos matriculados em escolas públicas ou privadas, mas também àqueles que têm a capacidade de aprender algo sem um professor. Como exemplo, cito o polímata Leonardo da Vinci, considerado um dos maiores autodidatas conhecidos da história e, também como ele, o poeta Antônio Gonçalves da Silva, o imortal Patativa do Assaré, um de nossos patronos.
Muitos interlocutores costumam citar o vernáculo “intelectual” em vão. Falam por não o conhecerem bem ou por não perceberem a sua extensão exata, talvez por só entenderem o significado mais formal da palavra. O intelecto não tem diploma. Os neurônios que amarram o cérebro não sabem a quem estão servindo, daí ativarem livremente o caminho das ideias.
A figura do intelectual, para Umberto Eco, autor do famoso livro “O Nome da Rosa”, falecido em 2016, é aquele que “produz novos conhecimentos através da criatividade.” Exemplo: um agricultor que descobre um novo enxerto capaz de criar uma nova classe de bananas está, de fato, realizando uma atividade intelectual. Enquanto isso, um professor de filosofia que repete, ano após ano, a mesma aula sobre Heidegger pode não estar sendo um intelectual de verdade. Este é o ponto. Alguns podem não dominar a gramática, escrever uma tese de doutoramento ou não saber colocar as metáforas e metonímias no poema, mas podem, com sua inteligência, fazer algo que ninguém é capaz. A chave é, portanto, a criatividade crítica, como a habilidade de questionar e reinventar aquilo que fazemos. A intelectualidade não é um título, uma marca, uma ferra de boi, e sim um compromisso com a originalidade e o pensamento inteligente.
Quanto ao livro “Biografias de Patronos da Academia Cedrense de Letras”, idealizado pelo decano João Gonçalves de Lemos – que se foi recentemente, vítima do tempo – expõe ao grande público um pouco da vida e obra dos ilustres conterrâneos que projetaram a cidade de Cedro CE.
Enfatizo que a realização do compêndio foi árdua, porém cuidadosamente elaborada pela comissão organizadora (e aqui cito o desempenho de Betânia Moura e Irapuan Aguiar, sempre solícitos) e por todos os confrades e confreiras que se dispuseram a ajudar. Ele foi fruto de trabalho incansável dos historiadores, pesquisadores e escritores, que dedicaram tempo e esforço para registrar a história de vida dos patronos que deram nome às cadeiras desta Academia. Na obra, encontramos histórias de visionários, líderes, artistas, escritores e pensadores que contribuíram para o desenvolvimento da nossa cultura, arte, literatura e sociedade.
Agradecemos aos autores e colaboradores por este trabalho excepcional que se torna fonte de inspiração para nossos membros e futuras gerações. E “dando os trâmites por findos”, entrego aos familiares do querido João de Lemos o registro histórico e fotográfico da conclusão do livro pelo qual ele tanto batalhou. Que Deus o tenha.
*Sávio Pinheiro
Médico, escritor e membro da Academia Cedrense de Letras.
Uma resposta
Não apenas a Academia Cedrense de Letras está de parabéns com a posse do médico e poeta Sávio Pinheiro na presidência do sodalício literário, mas a comunidade de Cedro.