Com o título O Candidato Gastoso”, eis um conto da verve de Francisco Caminha, escritor e ex-deputado estadual, Ele aborda o momento eleitoral.
Confira:
Atenção Brasil!
Vai começar o temporada do “Panis et Circenses” neste festival de flatulências verbais da constipada democracia brasileira, onde comida, dinheiro e diversão são os purgantes cívicos que causam a diarreia de votos nas urnas. Nesta época, emergem duas categorias de candidatos: o gastoso e o gostoso. É fácil explicar a diferença:
Nas minhas caminhadas em busca de votos fui visitar uma família amiga que me devia muito favor num conjunto habitacional daqueles do programa governamental Minha Casa, Minha Vida, num bairro da periferia de Fortaleza, onde as facções do crime ditam as regras de comportamento da urbis local. Quando cheguei na casa da Helena vi o muro todo pintado com o nome de outro candidato, não só a humilde moradia dela, mas as demais daquela ruela.
Quando gritei o nome Helena, ela abriu porta e fui logo protestando:
- Amiga, você está me traindo com esse candidato aí do muro?
Ela imediatamente pediu para entrar e me conduziu até o minúsculo quarto onde dormia. Pediu para eu sentar na cama e me apresentou um porta retrato com minha foto de campanha e firmemente se expressou:
- Neste quarto ele nunca entrou, nesta cama ele nunca sentou. Você acha que eu vou votar em quem ?
- Faz três meses que ele me paga um salário mínimo e eu preciso. E vou logo te avisando que muro não vota. Eu só divulguei o nome dele, mais você sabe que o voto da minha família é seu. E nessa rua eu sou a líder dos votos. Eu disse:
- Já que ele está te ajudando não precisa você cornear ele por completo, pelo menos divida os votos, metade para mim e metade para ele.
Caro leitor, quem, neste caso, foi o gostoso e quem foi o gastoso? Entendeu o mistério? Pegou a visão?
Nessa mesma campanha, encontrei, no semáforo do cruzamento de duas avenidas da Aldeota, uma eleitora minha segurando a bandeira de um concorrente meu, do mesmo partido. Estacionei o carro e fui conversar com ela, que logo foi dizendo:
- Seu Caminha, não é o que o senhor está pensando. Eu não confundo trabalho com voto. Ele está só me pagando para segurar o pau da bandeira dele, mas meu voto é seu.
Com as devidas ressalvas, os eleitores se assemelham a uma meretriz que cobra do cliente e dá graça para quem ama.
*Francisco Caminha,
Escritor e ex-deputado estadual.