“Viajando de Uber…”

Com o título “Viajado de Uber…”, euis artigo do professor Antõinio Albuquerque, ex-reitor da Universidade Federal do Ceará. Ele conta sua experiência ao circular de Uber pela cidade e, claro, muitas curiosidades da vida dos motoristas. Um recorte social interessante.

Confira:

Temos usado muito, nos deslocamentos pelos diferentes locais de Fortaleza, carros da plataforma Uber, que conecta usuários a motoristas parceiros do sistema. O Uber como opção de mobilidade a preços acessivos foi criado em 2010, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos. Uber em alemão significa acima e na linguagem popular, super. Atualmente o Uber está presente em mais de 65 países do mundo e em mais de 600 cidades. No Brasil chegou em 2014, está presente em todos os Estados e Distrito Federal, nas capitais e mais de 100 outras cidades.

Nas nossas viagens de Uber encontramos motoristas de diferentes formações profissionais e experiências de vida. Alguns são formados em direito, engenharia, fisioterapia, educação física, pedagogia, economia, contabilidade, psicologia, entre outras profissões. Alguns são estudantes universitários das áreas citadas anteriormente, empresários e também ex-empresários de restaurantes, bares, confecções, gráficas, oficinas mecânicas, materiais de construção. São também funcionários públicos ativos ou aposentados, ex-motoristas de ônibus e caminhões e ex-motoqueiros. A maioria dos motoristas do Uber são cearenses, mas há muitos vindos do Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e alguns estrangeiros. Pessoas do sexo masculino (maioria) e feminino.

A maioria prefere trabalhar no Uber, porque ali não possuem chefe e podem fazer o seu próprio horário de trabalho; como ajuda para pagar as prestações do carro comprado; por falta de alternativas no mercado de trabalho; complementação do orçamento para despesas com a educação dos filhos ou o pagamento do aluguel do apartamento. Há também os financistas que usam seus carros para complementar gastos com o combustível, quando se deslocam de volta de grandes distâncias, atendendo a chamadas de clientes. Na realidade, nos dias atuais, o Uber é a mais viável alternativa para as pessoas terem uma renda permanente ou extra.

Os carros que são utilizados sejam nas alternativas Uber-X ou Confort, são de diferentes nacionalidades. Motores a diesel, gasolina, álcool e elétricos; modelos e anos diferentes de fabricação, com predominância das cores preta, branca, prata e vermelha. Na opinião dos motoristas os mais econômicos e de menor manutenção são os modelos asiáticos. As reclamações mais citadas giram em torno das altas taxas cobradas pelo Sistema Uber; insegurança (muitos não atendem a chamada em alguns locais da cidade); buracos existentes e remendos mal feitos nos asfaltos da cidade pela Prefeitura Municipal; crescente número de mais veículos no Sistema Uber; perigo dos motoqueiros no trânsito da cidade por suas acrobacias e excesso de velocidades. O carro mais confortável e silencioso que usamos foi o chinês BYD, que na opinião de seu proprietário é econômico e capaz de rodar 300 Km com sua capacidade total de carga elétrica.

A conversas com os motoristas giram em torno de suas vivências. Um deles era funcionário municipal do Eusébio e trabalha no Uber após o seu expediente na prefeitura, dizia que o seu município tem as melhores escolas do Estado, o bem avaliado hospital municipal, a melhor infraestrutura da Região Metropolitana de Fortaleza, os mais bonitos conjuntos e condomínios habitacionais, os shoppings mais modernos e até a segurança pública mais eficiente. Outro que foi assaltado na periferia do bairro da Aldeota, diz que sempre existe um olheiro (geralmente uma idosa ou crianças jogando bolas) para alertar as gangues. Existe quase sempre uma maneira como economizar nas corridas, estabelecer os momentos adequados para os melhores horários de corrida em atendimento das chamadas dos clientes do Sistema Uber.

Tem também os que falam de seus amores por suas esposas, usando táticas tais como na hora que começa uma briga do casal é pegar o carro e sair para o trabalho e no retorno à noite o amor é pleno. Outro, que começou a namorar com 14 de idade e a namorada tinha 12, então os pais resolveram separar os mesmos, indo ele morar no Rio Grande do Sul, onde casou, teve uma filha e separou-se, vindo morar em São Paulo onde teve outra filha, seguindo pra Bahia onde teve outra filha e finalmente voltou para Fortaleza. Encontrou sua primeira namorada, que estava casada e mãe de dois filhos e que acabou seu casamento para voltar aos braços de seu primeiro amor e hoje, vivem felizes e amando cada vez mais um ao outro e alegres da vida. Confessou que no espaço de tempo entre a separação, ainda adolescentes e a união final, cada qual com filhos de outros casamentos e ex-consortes, quando se encontravam ocasionalmente, se amavam como se nada tivesse acontecido para separá-los, como as outras pessoas não existissem em suas vidas.

*Antonio Albuquerque,

Ex-reitor da Universidade Federal do Ceará.